9 janeiro 2009 14:35
Em declarações aos jornalistas à saída do Tribunal de Monsanto, Carlos Cruz afirmou: "A importância deste episódio é que foi a mentira necessária para construir este processo [da Casa Pia]".
9 janeiro 2009 14:35
O apresentador Carlos Cruz afirmou hoje que o episódio de 1982 que o relaciona com abuso sexual de menores foi a "mentira necessária" para a construção do processo Casa Pia, alvo das alegações finais da sua defesa.
Carlos Cruz falava aos jornalistas à saída do Tribunal de Monsanto, onde começaram hoje as alegações finais da sua defesa, a cargo de António Serra Lopes e Ricardo Sá Fernandes, e que foram dominadas pelo episódio de 1982, em que foram encontrados na casa do embaixador Jorge Ritto em Cascais, dois jovens da Casa Pia que alegadamente teriam visto fotografias comprometedoras do apresentador em actos sexuais com menores.
"A importância deste episódio é que foi a mentira necessária para construir este processo [da Casa Pia]", disse aos jornalistas quando questionado sobre o tempo dedicado pela sua defesa ao caso de 1982, cujos factos prescreveram, mas que é muito referenciado neste julgamento para sustentar a ideia de um passado pedófilo dos arguidos, incluindo de Jorge Ritto.
"O Ministério Público dedicou-lhe três horas [nas suas alegações], e nós temos que responder", acrescentou.
Durante as alegações, Serra Lopes sustentou que ao trazer a este julgamento o episódio de Cascais, praticou-se "uma ignomínia" contra Carlos Cruz, acusando o Ministério Público de transformar o apresentador no "navio-almirante" do processo, sendo um "bom alvo a abater" por ser "famoso e idolatrado pelo público".
"Um processo da comunicação social", diz Ricardo Sá Fernandes
Ricardo Sá Fernandes referiu-se ao processo como "uma fantasia", dizendo que "mais do que do Ministério Público, é um processo da comunicação social", realçando a importância que o programa "Hora Extra" da SIC teve, em 26 de Novembro de 2002, pelo impacto que teve na opinião pública e as consequências que trouxe para o seu constituinte, sobretudo pelas declarações da antiga secretária de Estado da Família, Teresa Costa Macedo.
Recorrendo a excertos vídeo de noticiários e do "hora Extra", a defesa de Carlos Cruz frisou que ao falar em personalidades públicas que teria visto em fotografias trazidas da casa de Cascais e incluídas num dossiê na Casa Pia, Teresa Costa Macedo deu azo à suspeita de que seria o apresentador a figura que nas fotografias se mostrava em poses sexuais com crianças.
"No dia seguinte, todo o país bem-pensante dizia que era o Carlos Cruz que tinha estado na casa de Jorge Ritto", disse Sá Fernandes.
No entanto, apoiando-se em declarações prestadas por Teresa Costa Macedo em tribunal em que garantiu nunca ter visto quaisquer fotografias de Cruz, Ricardo Sá Fernandes justificou a intervenção da ex-governante no "Hora Extra" como uma primeira mentira que foi "tapada com outras mentiras, numa fuga para a frente" de uma mulher "injustamente acossada" e responsabilizada por não ter feito mais para denunciar e pôr termo aos abusos na Casa Pia.
Durante as alegações, Ricardo Sá Fernandes leu excertos de depoimentos e relatórios relativos ao episódio de 1982 para concluir que "o que sobra é zero".
"Temos zero e o [procurador do Ministério Público] diz que este episódio demonstra que os arguidos se conheciam", disse, dizendo-lhe de seguida: "Shame on you!" ("Tenha vergonha!").
"Espero que estes arguidos [excluindo o ex-motorista da Casa Pia Carlos Silvino] e esta mulher, [Gertrudes Nunes] sejam absolvidos. Será uma derrota para o Ministério Público, que a merece, e para certa comunicação social e uma certa televisão que instrumentalizou e enriqueceu à conta deste processo", declarou ainda durante as alegações.
Além de Cruz, Ritto e Silvino, no banco dos réus sentam-se ainda o médico Ferreira Diniz, o advogado Hugo Marçal, o ex-provedor-adjunto da Casa Pia Manuel Abrantes e Gertrudes Nunes, dona da casa de Elvas onde alegadamente ocorreram abusos sexuais de menores casapianos.