Blogue de Coimbra acompanha julgamentos em tempo real

Coimbra tem um blogue, O Sexo e a Cidade, que narra os julgamentos com uma precisão imediata e com a vantagem de não ser dominado pelos termos jurídicos, muito menos em linguagem de acta judicial.

À medida que arguidos, testemunhas, advogados, procuradores e juízes vão intervindo, o autor do blogue, Fernando Moura, escreve em directo as suas declarações, acrescidas com um tom de ironia peculiar. Em qualquer parte do mundo, os julgamentos são acompanhados a par e passo.

A moda em Coimbra pegou e à hora do trabalho os internautas estão mais atentos do que nunca aos julgamentos mediáticos. O primeiro caso foi este ano, com as sessões do presidente da Académica, José Eduardo Simões, a ser defendido por Rodrigo Santiago.

Em simultâneo está a ser coberto um outro julgamento, do ex-vereador de Coimbra Luís Vilar e do empresário Domingos Névoa, defendidos por Alfredo Castanheira Neves e por Artur Marques.

Jornalistas fora das reuniões

"Tudo começou com o acompanhamento directo das reuniões da Câmara Municipal de Coimbra", afirma ao Expresso Fernando Moura. "Com tais relatos, o êxito foi tão grande e tantas as consultas ao blogue, que a Câmara proibiu a assistência dos jornalistas e estes, agora, só podem permanecer na reunião pública mensal obrigatória por lei, o que contraria totalmente a tradição das relações da autarquia com a comunicação social", explica Fernando Moura.

"E porque não os julgamentos?", lembrou-se Fernando Moura. "Falei com várias pessoas, incluindo juristas, consultei legislação específica e concluí, de facto e de direito, não ser proibido acompanhar os julgamentos em direto. Pelo menos é essa a nossa perspectiva e tem sido sempre respeitada, pelos magistrados, arguidos e advogados", salienta Fernando Moura.

"Quando houver um julgamento de pessoas conhecidas vou tentar e então logo na primeira audiência do julgamento de José Eduardo Simões, presidente da Académica, narrei, com pormenor e a par e passo, os momentos mais significativos", refere o profissional da comunicação social.

"Como ninguém me disse nada em contrário, continuei sempre e tem sido um êxito", diz Fernando Moura a propósito do facto das testemunhas seguintes poderem saber, de antemão, o que se passa na sala de audiências. Isto apesar de ser sempre possível, por outros meios, pessoas ligadas aos processos (o que não é o caso de Fernando Moura) poderem passar informações prévias para o exterior, através de telemóvel colocado em silêncio.

Visitas em grande número, mas...

Segundo Fernando Moura, o blogue aumenta de audiência quando faz a cobertura dos julgamentos, em especial do presidente da Académica, José Eduardo Simões.

"O blogue tem um número de visitas que me assusta, anda diariamente a nível de quatro a cinco mil, tendo alguns dias de picos maiores. A média mensal é de 150 mil visitas por mês, ou seja, quase três milhões de visitas nos últimos três anos, desde que o blogue foi criado".

Fernando Moura, 43 anos, profissional da comunicação social, oriundo de Seia, foi estudar para a Universidade de Coimbra mas cedo se rendeu à imprensa escrita e falada. Foi consultor de comunicação social e diz "estar a tentar viver apenas dos contributos anónimos (Multibanco ou e-banking), só que "parece muito difícil", segundo confessa.

"Até agora só tive 80 euros de donativos, havendo 83.427 que nunca pagaram para ver", diz o autor de O Sexo e a Cidade, para quem "é inviável manter este projecto por muito mais tempo em espaço aberto e livre". É que, salienta, "poucos se atrevem a aplicar publicidade, com receio de que o poder político e económico instalado em Coimbra não goste de ver o nome dessas empresas associadas a um blogue irreverente e que apesar de brincar não ofende ninguém".

Habituado a inovar, Fernando Moura lançou o primeiro diário gratuito em Portugal, além de estar ligado anteriormente a publicidade. Foi director de rádios e jornais da região Centro e, actualmente, no seu blogue O Sexo e a Cidade, tem vindo a dar notícias que fizeram furor na imprensa a nível nacional.