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Banca salva Berardo da falência

27 janeiro 2009 20:40

Anabela C. Campos, Nicolau Santos e Isabel Vicente

Berardo conseguiu com três bancos um acordo muito favorável, mas negociação com Santander ficou de fora.

27 janeiro 2009 20:40

Anabela C. Campos, Nicolau Santos e Isabel Vicente

Joe Berardo acabou por conseguir um acordo muito favorável na negociação do reforço das garantias do empréstimo de cerca de mil milhões de euros que o investidor fez junto dos bancos para comprar acções do BCP, no decurso da guerra de poder que a instituição viveu em 2007 e onde foi uma das vozes mais activas.

De fora deste acordo ficou, porém, o Santander Totta, um dos quatro bancos que concederam empréstimos a Berardo para comprar acções do BCP, que hoje valem em Bolsa pouco mais de €190 milhões. Apesar de o montante ser de dimensão pouco significativa, o Santander não concordou com os activos que estavam a ser entregues como garantia. Por isso, as negociações acabaram por ser fechadas apenas com a Caixa, BCP e BES, onde está o grosso dos empréstimos, que venciam este mês, obrigando o investidor a reforçar as garantias e colaterais. A CGD e o BCP terão emprestado cada um cerca de €400 milhões, e o BES um montante inferior a 200 milhões.

Prolongar empréstimo

Ao que o Expresso apurou, o investidor - quarto maior accionista do BCP, com uma participação de 6,2% - conseguiu não só prolongar o prazo dos empréstimos como congelar o pagamento de juros por mais quatro ou cinco anos. O objectivo é dar espaço para que os mercados de capitais melhorem e a economia comece a recuperar.

Não terão, no entanto, ficado por aqui as vantagens acolhidas pelo mais mediático investidor do mercado português. Berardo entregou como garantia 75% da Colecção Berardo - um acervo de 862 obras de arte moderna e contemporânea avaliado em €316 milhões em 2007 - mas terá conseguido que ficasse de fora a Quinta da Bacalhôa, que produz vinho com aquela marca. E acabou por entregar apenas como colaterais activos detidos em Portugal, deixando de fora investimentos no exterior, nomeadamente no Canadá.

Berardo com risco sistémico

É na prática um excelente acordo, já que Berardo investiu mil milhões em acções do BCP, que agora valem pouco mais de €190 milhões. Ou seja, o investidor regista neste momento uma menos-valia potencial de €800 milhões. Um valor considerável, que obriga os bancos que fizeram os empréstimos a tratar o assunto com pinças, já que não chegar a acordo com Joe Berardo implicaria aprovisionar o montante da dívida e isso teria impacto nas contas das instituições.

Desconhece-se que montante da dívida contraída por Berardo terá sido paga desde que os empréstimos foram feitos, ou a nova data de pagamento dos mesmos. Sabe-se apenas que inicialmente os empréstimos tinham como garantia essencialmente as acções do BCP, muitas delas compradas no auge da guerra de poder no banco, quando as cotações do título andavam à volta dos quatro euros. Hoje valem menos de 80 cêntimos.

O Expresso não conseguiu confirmar junto de Joe Berardo a informação sobre o reforços das garantias e a renegociação das condições do empréstimo, uma vez que o investidor se encontrava ausente do país.

Perdas na ZON

A derrocada dos mercados atinge outros investimentos de Berardo. Apesar de ter recebido acções da ZON na sequência da cisão da operadora face à PT, Berardo comprou alguns títulos e a verdade é que face à cotação do final de 2007 a participação de 5,6% apresentará perdas potenciais de €95 milhões.

Entretanto, em entrevista ao "Público", o investidor defendeu a retirada da ZON da bolsa, argumentando que o facto de a empresa estar cotada representa uma desvalorização para os accionistas. Mostrou-se ainda disponível para viabilizar a entrada de capital angolano na ZON.

Apesar de ter dado como colateral para garantir as dívidas à banca 75% da sociedade que gere a sua colecção de arte, Joe Berardo está longe de ter deixado os bancos confortáveis.

Na verdade, o que está em causa é uma dívida que ronda os mil milhões de euros, garantida com acções que neste momento valem cerca de 190 milhões. Por seu lado, a colecção de arte foi avaliada em 316 milhões de euros em Abril de 2008, pela leiloeira Christie's. Ora 75% daquele valor são 237 milhões que, juntamente com o valor das acções, perfaz 427 milhões. Contudo, perante os montantes em causa, a última coisa que os bancos envolvidos (CGD, BCP e BES) desejavam era executar um cliente como Berardo - porque isso teria de ser reflectido de imediato nos seus balanços, registando as respectivas menos-valias. Como disse um banqueiro, Berardo passou a representar um risco para o sistema financeiro.

Por isso, era imperioso evitar a sua falência.

ZON

Vinhos

Semapa

Sonae

EMT

Texto publicado na edição do Expresso de 24 de Janeiro de 2009