1 novembro 2007 18:53
O músico que já contracenou com Angélica Houston e Cate Blanchett sente-se em Portugal como se estivesse em casa. O que é bom, pois inicia hoje uma digressão nacional.
1 novembro 2007 18:53
Nasceu no Rio de Janeiro e é filho de uma família pobre. Viveu na rua e aprendeu a tocar violão. Fez teatro e a sua vida mudou quando interpretou o papel de Mané Galinha no filme Cidade de Deus, de Fernando Meirelles. Hoje, é um dos músicos mais respeitados no Brasil e enche salas por onde passa. Toca hoje na Casa da Música do Porto e, nos próximos dias, passa por Estarreja, Guimarães e Lisboa. O Expresso procurou conhecer melhor o autor de América Brasil. É Seu Jorge na primeira pessoa.
Seu Jorge, como foi a sua infância?
Foi infância de menino de comunidade, filho de negro. Os meus pais nasceram na década de 30 e não tiveram um percurso fácil. Não se tinha a tolerância para negros que há hoje. Era muito difícil estudar, ter uma carreira. Tiveram filhos, todos meninos, eu era o mais velho de 6 irmãos. Tinha de dar o exemplo, de não cair na delinquência. Mas é difícil escapar dela quando há uma doença social. Mas a minha infância foi muito boa. Não tínhamos coisas mas tínhamos carinho de pai e mãe. "Não queira nada que não seja seu. Trabalhe e estude o que puder". E assim eu fui fazendo.
Depois entrou para a escola.
Estudei até aos 14 anos.
Num colégio particular. Como é que um pobre foi parar numa escola de ricos?
Deram-me uma bolsa de estudos. Na época os políticos conseguiram dar umas bolsas para o povo e a minha família ganhou. Mas era muito complicado, o ensino era muito forte. E pela manhã, quem não se alimenta direito, quem não tem nada para comer, é sempre muito complicado. Fica difícil concentrar para estudar. E não havia nada: uma caneta, uma borracha, um caderno, um uniforme. Estava sempre em desvantagem. Isso era muito forte.
Havia discriminação?
Havia muita. De criança para criança. De um menino comer uma banana e jogar uma casca em cima de mim e dizer "come macaco". Isso marca muito, nunca mais vou esquecer. Ainda hoje eu e os meus irmãos falamos disso. No primeiro ano perdi o ano. Eu e os meus irmãos. E a bolsa caiu para metade. A minha mãe, que era faxineira nessa escola, não tinha salário para suportar. Mas não foi por falta de empenho. Foi muito por falta de recursos. Todos os dias tinha de pedir uma folha emprestada e uma caneta para tirar apontamentos do quadro negro. Isso custa muito. Ficou insuportável e com 14 anos saí da escola. Chegou uma hora em que não dava mais e que achei melhor sair, ganhar uma grana para ajudar em casa.
E apareceu o sonho de ser músico, tal como o seu pai.
Isso começou com dez anos. Na minha escola havia uma banda marcial que tocava sempre no desfile militar do 7 de Setembro, o dia da independência do Brasil. Um dia vi uma menino com um saxofone e achei aquilo muito bonito. E disse ao meu pai que ia trabalhar numa oficina borracheira para comprar um. "Vou juntar um dinheirinho para comprar um saxofone. Ele achou legal. Ficou até orgulhoso por ver que eu já estava querendo-me envolver com trabalho, aprender... A oficina era mesmo ao lado de minha casa. Esse dinheirinho que eu ganhava ajudava a minha mãe a pagar os fiados: sabão, água sanitária de lavar a roupa - ela lavava para fora. A minha mãe era analfabeta, não sabia ler nem escrever. O pouquinho que a gente aprendia na escola ensinava para ela.
Mais tarde acabou por ingressar no exército.
Sim, com 19 anos. Tive a felicidade de conhecer a música mais de perto, música escrita, com a corneta. Com 20 anos saí do exército e acabei na rua.
Foi quando morreu o seu outro irmão.
Perdi-o numa chacina. Já era o segundo. A minha família desarticulou-se e eu acabei por viver na rua.
E como foram esses anos de rua?
É muito tempo. Dormia no chão, em marquise. Não tinha que comer, não tinha onde tomar banho, onde fazer necessidades fisiológicas. Pode imaginar, mas viver é bem diferente. Em 1990 conheci um companheiro, o Gabriel Moura, que está aqui hoje tocando comigo, que me inspirou a tocar. Quando eu o vi tocando num bar do Meia, na zona norte do Rio de Janeiro, músicas do Chico, Caetano, Gil... ele é sobrinho de um grande músico chamado Paulo Moura, um clarinetista brasileiro. Quando o vi tocando pensei "eu quero fazer isso" e virei fã dele, escravo mesmo. Onde ele ia eu ia também, para aprender e ensaiar os acordes...
Já tinha violão?
Não. Ganhei o violão de um senhor chamado Jefferson, que tinha uma barraca de "angu" à baiana que trabalhava a noite toda. Ele tinha uns três ou quatro violões e tocava enquanto não tinha clientes. E cada vez que ele tocava juntava clientes. E depois tinha de os ir atender e passava o violão para mim e eu ficava praticando. Depois do Gabriel e do Jefferson, o violão foi o meu grande companheiro, o meu grande amigo. Foi o que trouxe os amigos para mim. Eu sem o violão era uma pessoa sinistra, em que ninguém tinha confiança porque morava na rua, fazia parte de um problema social e já tinha 20 anos. Não era uma criança. Com 20 anos era suspeito para quem não me conhecia. Mas quando me viam com o meu violão naquela condição acreditavam que eu tinha alguma uma cor diferente dentro do meu ser e isso abriu muitas portas...
Foi assim que começou a tocar?
Eu comecei a tocar violão para arrumar namorada, sofria muita rejeição. Era para galantear e tal... fui aceite por diversas rodas, assim.
Tocava músicas suas?
Naquela época não. Tocava músicas do gosto popular. O Gabriel mostrou-me muita música que não chegava ao bairro. O Chico não passava ali no bairro. O Caetano passava mais. Fiquei a conhecer outra música, não só a popular e comercial. Mas não sou "patrulheiro". Para mim música é música. Não há música ruim. Não faço distinção de estilos. Já fui elitista. Quando comecei queria tocar MCM, Keith Jarret... mas não tinha condição. Mas aquilo mudou a minha vida e fiquei muito radical. Só aquilo é que era música. Depois mudei, deixei de pensar só nessa música e ouvir todas as outras. E só por isso podia ser o músico popular que eu sou.
Entretanto apareceu o teatro.
Foi o Gabriel Moura que me levou a uma companhia três anos depois.
Também dormiu na sala.
Sim, também. Entrei na companhia de teatro para fazer música para teatro e para me especializar nisso. Um dia colocaram-me num solo como actor, cantando um negócio numa peça. Eu cantei e como não tinha para onde ir pude praticar bastante a encenação e dramaturgia. Mas nunca esperando que me ia tornar um actor profissional ou que me iriam utilizar nas artes cénicas. Não viu esse futuro para mim. Não é muito comum o actor negro ser convidado para fazer coisas. Sobretudo no Brasil, onde temos uma marca muito grande de escravidão. As histórias do actor negro são sempre voltadas para a marginalidade. Mas o que é a marginalidade? É quem vive à margem. Não significa que seja uma pessoa do mal. Mas não é convidado a ser inserido. E eu não queria fazer parte de um esquema em que fizesse o negro estagnar por aí. Por isso eu sempre vi a música como o meu futuro. Acontece que, em 2001, fiz o Cidade de Deus e isso mudou tudo.
O que é que mudou?
Tudo, radicalmente. Este ano já estive na Irlanda, num filme com Brian Cox. Nunca fui lá tocar e fui lá fazer cinema. Tive a felicidade de fazer Um Peixe Fora de Água, de Wes Anderson, que me trouxe numa bandeja um David Bowie, que eu não conhecia. Afinal de contas sou negro da favela e na favela não toca rock. São coisas que eu não via acontecer e isso aconteceu através do cinema, uma das artes mais respeitadas do mundo.
Nunca lhe passou pela cabeça chegar até aí?
Nunca! Como é que eu ia imaginar que um dia ia estar em Hollywood? Com um Bill Murray, Angelica Houston, Cate Blanchett, Michael Gamble, Williem Dafoe. Isto era mais que um sonho, era irreal, outra dimensão. E fui recebido com muito carinho, todo o amor. Todos muito interessados em saber o que é uma favela. "Você vem de tão longe, a sua carreira é tão grande! Como foi isso?".
Alguma vez pensou que Cidade de Deus uma enorme repercussão?
Eu não achava. Sabia que ia dar que falar mas não um sucesso destes. Eu acreditava que o Brasil nem ia entender. Acreditava que aquela realidade era conhecida de todo o mundo, que todo o mundo sabia que aquelas coisas são feitas daquela maneira. Tinha também algum receio da censura, que dissessem que estava errado muitos garotos menores fumando maconha, de revólver na mão. Mas o realizador mostrou ao presidente, o Fernando Henrique Cardoso, que baixou a idade do filme de 18 para 16 anos. Então se pode votar não podia ver aquela realidade? E aí as coisas mudaram. Houve uma consciência intelectual da importância do filme. Foi muito importante para todos os que participaram. Para mim também, como actor e negro.
Foi difícil interpretar um personagem, o Mané Galinha, que tinha um percurso tão parecido com o seu? E que podia ter sido o seu.
Muito parecido comigo. Ex-militar, querido pela comunidade. Passou com a família o que se passou comigo. Perdeu dois, como eu. A diferença foi a escolha. Ele escolheu se vingar, eu escolhi a música. Não tinha força para me vingar. Só podia ficar a favor de mim mesmo. Tinha perdido o convívio com a minha mãe e os meus irmãos. Todo o mundo se separou. Quando o Fernando Meirelles me contou a história do filme e me falou do personagem, que até fisicamente o fazia lembrar o Manuel Galinha, eu pensei que tinha de fazer aquele personagem. De certa forma senti que me representava a mim próprio e outras pessoas que passaram pelo mesmo.
Mas o mais importante foi o facto de eu entender que sou actor negro e que no Brasil eu normalmente não faria filmes. Eu já faço filmes fora do Brasil. Fora do eixo norte-americano, sou dos poucos negros do mundo que fazem cinema.
E vai continuar com o cinema?
Sempre! Por favor, não me tirem dessa!
A música que faz também é muito interventiva. Quer alertar? Mostrar? Intervir?
Eu sou uma testemunha do nosso tempo. O artista é uma testemunha do tempo. O Martin Scorsese foi uma testemunha do tempo dele, o Coppola também. O Milton Nascimento fala de coisas do tempo dele e de hoje. A música também tem essa função boa. Também pode servir para o manifesto, para o raciocínio, a manifestação, a política...
Fala dos trabalhadores, da burguesia...
É. Trabalhadores, burguês, da família também. Falo de mim... há uma canção no disco novo que se chama Mariana, que fala da minha esposa, das minhas filhas, de como a minha vida está indo. É uma revista do momento que eu estou atravessando, em que me sinto pela primeira vez artista independente, com o próprio selo, com a própria editora, entendendo pela primeira vez as dificuldades da indústria fonográfica... é que nós, artistas, temos muitos vezes tendência a criticar sem conhecer. Fiz críticas idiotas. Agora vejo as dificuldades, com os impostos, o juro... ter empresa no Brasil é complicado, mesmo que agora se veja uma mudança para melhor muito grande.
Acaba de fazer uma digressão pelo Brasil.
Foram 14 concertos. Do sul do Brasil até Manaus! Entrei dentro da selva, falei com tribos indígenas. Vi como viviam, a farmácia deles vem das plantas. O oxigénio é forte. A Amazónia é forte! A natureza é um colosso. Hoje posso dizer que conheço o meu país.
Como foi a reacção do público? Variava de Estado para Estado?
O Brasil nesse ponto é unificado. Tem diferenças nas infra-estruturas, locais com mais do que outros... mas o povo é um só e esse é o maior orgulho que tenho no meu país. O povo é o melhor do mundo, diferente do resto do planeta. A gente se expõe, se expressa... pena que não politicamente mas nas questões humanas é um povo muito rico e muito forte. É um povo que tem Carnaval! Temos a oportunidade da fantasia! As pessoas amam-se, por isso temos bastantes crianças (risos). Estava a ver no jornal que há cá um problema de natalidade. Vão para o Brasil, povo! Levem vossas esposas, namoradas! Amem-se e tenham crianças. Sem crianças não há renovação! (risos)
É muito diferente tocar no Brasil ou na Europa?
Muito. Começa na alimentação. Nós estamos habituados a comer grão e feijão, molhos... na Europa não é assim. Tirando Portugal, claro! Aqui se come muito bem. Mas na Alemanha já é difícil você ter uma refeição.
E as diferenças do público. As reacções são diferentes?
Eu adoro o público brasileiro. Eu amo tocar lá! E agora vi isso bem. 40 dias fora de casa, de ónibus, como saltimbancos. Chegávamos com uma semana de antecedência, conhecíamos a cena cultural e tocávamos no fim-de-semana. Mas eu adoro tocar na Europa. O público aqui é muito interessado. Quando você vai dar um show as pessoas organizam-se para ver. Quando você vai tocar uma música, uma bossanova, estão todos em silencio para ouvir, aproveita o último suspiro. E quando não gosta vai embora! E isso é muito honesto! Não dispersa de copo na mão. Levanta e sai. Isso é respeitar a música, uma maneira de conservar a boa música. Quando gosta bate palmas, incentiva o artista a melhorar. O público dá-me sempre alguma coisa para eu melhorar. Eu estou sempre em desenvolvimento. O público está sempre prestando atenção ao que estou fazendo e que não dou conta. Dizem-me "até aqui foi óptimo, depois houve um problema, depois melhorou"...
E o público diz-lhe isso?
Diz! A mim diz! Porque eu termino o concerto e acabou o artista e volto a ser uma pessoa normal. E aí vou tentar saber o que é que eles querem, o que acharam. Eu trabalho para eles. Trabalho para o público.
Já não é a primeira vez que está em Portugal. As outras experiências foram boas?
Muito boas. Todas foram boas. É o único país em que eu não fico "ai eu vou ter de viajar...". Eu chego aqui, falo a minha língua, a comida é óptima. Eu adoro o Porto e Lisboa são as coisas mais lindas do mundo. Eu adoro o Porto, tenho grandes amigos aqui. Há uma banda que veio para aqui - os Dança Balança - que vieram para aqui nos anos 90 e nunca mais voltaram. E tenho um grande amor por eles. Permitiram-me tocar com eles em bares para eu comer e chegavam ao final e partilhavam uma refeição comigo. Isso são coisas que nunca vou esquecer. Quero entrevistá-los, saber como está a vida deles, o que vão fazer...
Essa entrevista faz parte do seu documentário sobre o trabalhador brasileiro?
Faz. È sobre o trabalhador brasileiro do mundo inteiro. Como trabalham, como estão, como vivem. Falei também com os índios. São os que mais trabalham pelas suas terras. Entrevistei uma líder de uma tribo. Foi uma experiência muito rica! Trouxe-me muito conhecimento, muita sabedoria, mesmo sobre o Brasil actual. O depoimento dela é uma das coisas mais maravilhosas deste documentário.
É optimista?
Mais do que optimista sou positivo. Sou muito positivo nas questões de desenvolvimento. Acredito que vamos chegar lá! Com alegria, amor e responsabilidade vamos chegar a algum lado. O Brasil é tão grande. Temos portugueses, espanhóis, alemães, japoneses... Somos negros, brancos, índios, mulatos. Queremos ser autores disso mesmo. Queremos uma renovação da cena política e artística! E vamos ter a Copa do Mundo de 2014!
Gosta de futebol?
Sou louco por futebol! Sou Flamengo. Gosto muito da colectividade que representa. O Ronaldinho Gaúcho não faz nada sozinho. Precisa do Deco, do Et'oo... É uma metáfora da vida. Precisamos de fazer um grande time para marcar os nosso golos!
Qual é a sua relação com a geração do Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso?
São pessoas importantíssimas na história do Brasil. Lutaram contra a ditadura, são exemplos. Há um que até é ministro. E acho muito bem. Ele fez cultura durante 40 anos. Eu faço parte de uma geração que quer fazer uma renovação. Eles são entendidos por todos nós, apesar de algumas críticas.
Mas tem influências desta geração?
Uma vez fizeram-me essa pergunta e até acho que o Chico Buarque entendeu errado. Musicalmente não tenho nenhuma. Intelectualmente e politicamente sim. A minha grande influência é o samba. Arlindo Cruz, Zeca Pagodinho, Roberto Ribeiro, João Nogueira... é uma turma que nunca teve o envolvimento que esses artistas tiveram mas são tão grandes quanto eles. Esses artistas dessa geração nunca tocaram, por exemplo, numa favela. Então eu cobrei isso porque o Chico Buarque é muito importante.
Diz-se até que só há dois consensos no Brasil. O Chico Buarque e o futebol.
Com certeza! Se o Chico for tocar a uma comunidade em pé de guerra há trégua! Ele é muito importante na nossa história. Eu uma vez cobrei isso mas fui mal interpretado. Se tivesse ouvido esses artistas na minha adolescência o meus amigos também tinham. E isso poderia mudar a vida deles. Cobrei como fã e não como artista que fica apontando o dedo ao defeito. Longe de mim! Chico Buarque não tem defeito! Se Chico tem defeito Jesus pecou! (risos)
O que lhe falta fazer na sua carreira?
Quero estudar. Quero-me formar, ser economista.
Economista?
Sim, vai ser tão importante no futuro... Queria também mostrar para minhas filhas, que o pai não se acomodou com a vida de artista.
O que já lhe dá muito trabalho...
Claro! Não é brincadeira! Ainda agora fiz a digressão com 45 pessoas sustentadas por mim. E tinha o patrocínio de uma empresa privada chamada Sagatiba. Isso não existia, não havia apoio financeiro. Talvez seja um momento de mudança! Leva o teu pessoal e a minha marca! Eu estou fazendo parte dessa transformação por intermédio do meu trabalho. Isso deixa-me muito orgulhoso!
Quais são as diferenças deste álbum, América Brasil, em relação aos outros?
Este álbum é uma mistura. Fiz um primeiro disco chamado Samba Esporte Fino que é um disco a solo, super-produzido, com metais, sopros, cordas e tal... na sequência disso eu fiz um outro disco, chamado Cru, que é o contrário: só violão e um cavaquinho.
Este é uma mistura dos dois.
Exactamente. Eu queria trazer para a frente da cena o cavaquinho, o tantã, o pandeiro, instrumentos que normalmente são de fundo, de acompanhamento. Desta vez quis fazer deles protagonistas. E automaticamente os seus instrumentistas, que têm um jeito de ser, de corpo, completamente diferente de uma formação académica. O seu sorriso... o samba é assim, chama as pessoas. É diferente da postura do rock, do pop, do jazz, da música clássica. Não queria fazer uma sonoridade cerebral em que as pessoas se ficassem perguntando o que é isso. A gente toca e você já entendeu.
O que espera desta digressão portuguesa?
Quero ouvir as pessoas, quero tocar e ouvir o que pensam. Estou em início de carreira, em processo de desenvolvimento. Quero saber de meus "pais", já que foram vocês que fizeram a gente, se estou fazendo a lição correcta. Quero passar uma energia limpa, positiva, saber se a nossa música está comunicando. Portugal é o melhor país para isso, já que a gente canta e toda a gente entende. Espero fazer-me entender. É esta a proposta de América-Brasil.
Já há salas esgotadas.
É uma felicidade saber que já uma praça esgotada (a Casa da Música). Mas é uma felicidade ainda maior ter sido tão bem recebido mal cheguei ao seu país. Bati na porta da Imigração, no aeroporto, a pessoa abriu, sorriu e ouvi logo um "Seja bem-vindo, Seu Jorge". É pena não ter filmado, para mostrar ao mundo como se devem tratar as pessoas. São coisas que nunca vou esquecer!