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Em Trás-os-Montes há uma mini-Pompeia e água-medicamento desde os tempos dos romanos

Em Trás-os-Montes há uma mini-Pompeia e água-medicamento desde os tempos dos romanos
NUNO BOTELHO

As termas romanas de Chaves, descobertas em 2006, revelaram um património riquíssimo preservado devido a um sismo que soterrou o complexo, e com ele quatro pessoas e objetos que permitem agora reconstituir o quotidiano. Hoje como há dois mil anos, a água brota a 76 graus. Nas Termas de Chaves atuais continuam a curar-se as maleitas do corpo e da alma. As águas de Aquae Flaviae são tesouro milenar.

Marina Almeida e Nuno Botelho

Não há fotografia que faça jus ao Museu das Termas Romanas de Chaves. O que ali se mostra, cerca de 40% do que seria todo o complexo termal, é um impressionante monumento, e uma longa lição de arqueologia, que continua em construção. Entra-se no museu, e quase conseguimos ver os romanos nos seus banhos terapêuticos. É um testemunho vívido. Quase tão vívido como a azáfama das (contemporâneas) Termas de Chaves, a poucos metros dali. Une-as a água, recurso natural que brota da terra a 76 graus e trata, agora como então, os males do corpo e da alma.

O complexo termal edificado pelos romanos no século I foi descoberto em 2006 quando se fazia o estudo prévio para a construção de um parque de estacionamento, no Largo do Arrabalde, no centro da cidade. “Sabíamos que passaria aqui a muralha seiscentista. A seis metros de profundidade apareceu o topo de uma das piscinas e água quente por todos os lados. Percebemos que tínhamos encontrado as termas, sem saber que seria esta dimensão e neste estado de conservação”. Rui Lopes, arqueólogo da câmara de Chaves, participou no achado desde o início. É com ele que percorremos o Museu das Termas Romanas de Chaves. Muito se escavou e estudou até aqui chegar.

O espaço, gerido pela autarquia, abriu no final de 2021. As obras ascenderam aos 3,8 milhões de euros. O equipamento já foi visitado por mais de cem mil pessoas. É possível verem-se destapadas nove piscinas ou tanques (duas maiores e sete de menores dimensões), o Ninfeu – onde se adoravam as águas, várias estruturas hidráulicas e métodos construtivos usados pelos romanos – como o opous caementicium -, e vários objetos recolhidos nas escavações.

Rui Lopes explica que o troço da muralha e da piscina A (a primeira a ser descoberta e uma das maiores) estava “selado cronologicamente”. Isto significa que os vestígios estavam preservados de forma unusual, graças a um sismo ocorrido na cidade no final do século IV que provocou uma derrocada da abóboda sobre o edifício principal. “Estas termas não eram só para tomar banho, eram para se tratarem. Um hospital. Todo esse quotidiano, os bisturis para as cirurgias, estavam lá. Passámos a ter aqui uma mini-Pompeia preservada no tempo, selada. Este é um sítio arqueológico que vai dar referência para outros sítios. A nível de arqueologia é muito importante. Temos objetos que não se preservam noutros sítios, como cestaria, cabos de facas, e objetos de carpintaria, para a manutenção. Todos esses objetos do quotidiano de há quase 2000 anos estavam preservados”.

Mas não foram só objetos que viram a luz do dia nas escavações. Também as ossadas de quatro pessoas, dois adultos, e duas crianças, foram recuperados e estão a ser estudados. “As crónicas do bispo Hidacio, um bispo suevo que veio para aqui no século V, dizem que uns anos antes tinha havido um sismo que tinha derrocado parte da cidade. Esta escavação veio comprovar o que é dito nessas crónicas. Houve um sismo, houve uma derrocada, e estavam pessoas a tomar banho aqui dentro, duas crianças e uma senhora, e fora do tanque um senhor. Há aqui uma história”, acentua.

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