Cada caderno tem um número na capa. É ali que vai incubando cada projeto, num caminho feito de desenhos, recortes, fotos, tudo o que António Belém Lima entender guardar nesta viagem. A arquitetura é o que lhe acontece neste processo, a que acorrem as suas referências, novas e antigas, escritores, artistas, arquitetos, um quadro, uma fotografia, coisa nenhuma.
O número é composto por quatro dígitos. O ano do projeto (ou do seu início), e o número do trabalho no atelier. Se chegar aos três dígitos, escolhe os dois últimos. O número de cada caderno tem quatro dígitos, sempre. “Isto é muito gráfico, sou muito sensível às coisas gráficas”.
É o código Belém Lima, arquiteto natural de Vila Real, onde vive e trabalha depois de ter partido para o mundo – primeiro Coimbra, onde estudou dois anos de engenharia eletrotécnica, depois Lisboa, onde frequentava o Café Monte Carlo, encharcado de artistas, escritores e gente do cinema, que o levaria a guinar do Técnico para Arquitetura. “Percebi que a engenharia não era para mim”. Depois o mundo mesmo, seguindo os caminhos da arquitetura e dos arquitetos que admirava e os que foi passando a admirar.
Com 72 anos, está sentado no atelier em Vila Real, no piso térreo de um edifício habitacional que saiu de um dos seus cadernos. Um espaço de trabalho que se alinha num túnel branco, com livros, amostras de materiais, e mesas brancas forradas a papel pardo: se as quis brancas, é para que brancas se mantenham. Belém Lima parece deixar pouco ao acaso, com atenção a todos os pormenores.
E depois, racionalizando a mudança de rumo, lá se lembrou que em casa do pai estava o único escritório de arquitetos de Vila Real. “Lia a revista L’Architecture d’Aujourd’hui nos anos 60, onde se mostravam as cidades pós-guerra dos nórdicos, Holanda, Dinamarca, que a gente aqui nem sonhava. Fiquei sempre com aquelas imagens clean, bonitas, hiper-racionais, e acho que isso não desaparece”.
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