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Padre João das Moedas, relíquia de Vila Real: o caçador de tesouros que “pagava as moedas aos bocados” e doou 35 mil ao museu que fez nascer

João Parente, o padre benemérito que entregou a sua coleção de 35 mil moedas e o acervo de achados arqueológicos ao Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real
João Parente, o padre benemérito que entregou a sua coleção de 35 mil moedas e o acervo de achados arqueológicos ao Museu de Arqueologia e Numismática de Vila Real
Rui Oliveira

O padre João Parente, mais conhecido como João das Moedas, gastou todas as suas poupanças a colecionar dinheiro velho, trocos de História, até conseguir amealhar 35 mil moedas romanas, gregas, cartaginesas, bizantinas ou visigóticas. O Banco de Portugal tentou convencê-lo a vender o acervo. Nem respondeu. Aos 90 anos, a maior fortuna é ter aquilo que ama por perto, no Museu de Arqueologia e Numismática. “Sou de Vila Real e só fazia sentido ficar aqui”

Em Vila Real toda a gente conhece o padre João das Moedas, prestes a comemorar 91 anos. Nasceu na freguesia de São Tomé do Castelo, numa família composta por 12 irmãos, no dia 13 de maio. “Passava sempre o meu aniversário em Fátima, mas agora já não posso”, reconhece ao Expresso. Um problema na anca abrandou-lhe os passos, tornou-os mais custosos, mas a memória permanece ágil e certeira, tal como a pontaria do antigo caçador. “E dos bons! Tinha uns cães maravilhosos”. Nada escapava ao faro do “magistral” Radar, de “pêlo negro e sedoso”, ou da Tricana, também “especialíssima de narizes”.

Quem torcia o nariz à mira implacável do pároco era Miguel Torga, companheiro de algumas caçadas, nas quais era sagradinho que acabavam zangados. “O senhor é o assassino das perdizes todas destas serras de São Martinho. Junta-se com o seu irmão, que é outro tal, e não lhes escapa uma. Isso não é ser caçador”, resmungava o escritor, pouco poético a escorraçar o padre sempre que este se aventurava a ir queimar cartuchos para as suas bandas. “Já vejo que o Senhor Doutor mata poucas. Mata poucas porque não pode ou porque não quer?”, provocava-o João Parente. Caçava perdizes quando tinha mais sorte, nas outras apontava a espingarda ao que lhe aparecesse à frente – uma lebre, um coelho, uma codorniz ou uma raposa dificilmente lhe escapavam. “Se trouxesse para casa menos de oito perdizes, já vinha chateado”, confessa o padre, também professor, escritor, investigador, arqueólogo, numismata e até motard.

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