Fazer queijo da serra de modo artesanal é preservar um modo de vida e um ecossistema. Na Serra da Estrela ainda há queijeiros e pastores a trabalhar como os antepassados e a trazer um novo olhar para a pastorícia. Parece uma antítese, mas provavelmente não é
Alcina Correia tem 51 anos e não sabe o que são férias. Fala com as mãos dentro de uma enorme panela, mexendo a coalhada – leite, sal e cardo -, em gestos suaves. A conversa demora-se perto de uma hora, o tempo de fazer três queijos da serra, e mais um tanto para ferver o soro, fazer seis requeijões, e depois deixar tudo limpo e arrumado. É assim todos os dias, de manhã e à noite.
Em Videmonte, uma aldeia do distrito da Guarda, Alcina e o marido, António, de 57 anos, são os mais jovens pastores, preservando um modo de vida em extinção. Na aldeia há mais uma queijeira, que já reduziu o rebanho, depois da morte do marido. Os jovens não querem esta vida, tal como Alcina não queria (e a filha, Simone, não quer): “Até para os bailaricos da aldeia não temos tempo”. Mas Alcina e António eram filhos de pastores e pastores se tornaram. Receberam de prenda de casamento dez ovelhas.
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