Expresso 50 anos

Retratos da vida na serra: da ovelha ao burel, é um tecer de histórias de amor

Ana Teresa Matos, pastora
Ana Teresa Matos, pastora
Ana Baiao

Seguimos a lã até ser pano. O tecido grosseiro que aquecia os pastores da Serra da Estrela, e que se continua a produzir. Das bordaleiras ao burel, com escala no lavadouro de lãs da Guarda, único no país, a história de como se luta por preservar uma raça de ovelha, um modo de vida e uma indústria.

Marina Almeida e Ana Baião

Os fios de lã a sair das bobines da urdideira são um monumento. É neste processo que a lã começa a ser teia, que depois há de ser colocada num tear e fazer nascer o burel, fazenda ancestral, que servia de casa ambulante aos pastores da Serra da Estrela. Mais de uma centena de bobines a desfazer-se em quilómetros de fio a caminho do tecido. De certa forma este momento, em que as lãs que irão ser um pano se enrolam todas juntas, lado a lado, num enorme cilindro que será colocado no tear, simboliza todo o ciclo da lã. Das curiosas ovelhas bordaleiras que dançam nos pastos pelas mãos de pastores e pastoras dedicados, ao lavadouro de lãs da Guarda, escolhida pelas rápidas mãos, depois várias vezes enxaguada e seca. Até aqui. Vai ser manta, casaco. Abrigo.

A urdidura: passar os fios das bobines para o rolo que será colocado no tear
Ana Baiao

1. Ovelhas e pastores: “Isto é A Lã e a Neve”

Têm uns olhos enormes castanho-claro amarelados, uma expressão doce e curiosa. No alto da cabeça de machos e fêmeas saem os cornos, como se fossem grandes tiles retorcidos. As patas são finas, especialmente se vistas por esta altura, em que transportam enormes almofadas – uns três quilos de lã. A Bordaleira, raça autóctone de ovelhas da Serra da Estrela, sustento de famílias inteiras, tilinta nos pastos há milhares de anos. Com elas, os inseparáveis pastores e pastoras. Ter um rebanho é profissão a tempo inteiro sem folga, muito menos férias, com folias poucas, e ainda assim com a ovelha de braçado (como a empreitada-festa da tosquia que já se prenuncia).

“O meu pai nem à escola me deixou ir. Comecei a guardar ovelhas aos sete anos. E digo para o meu neto de 14 anos, eu com a tua idade já trabalhava tanto! O teu bisavô fazia-me trabalhar tanto! Ele nunca fez nada na vida, tem 14 anos e é só comer e beber e passear e jogar à bola. E estudar, pronto”. Assim de uma penada, Manuel Neves, 75 anos, conta a história. “Antigamente era só trabalhar, trabalhar, trabalhar. De sol a sol. E fome, havia fome. Era só as batatinhas, o que dava a terra e os ovitos, e o queijito e o porquito. Agora matam-se os porcos e a gente tem as arcas e tem as coisas frescas, mas antigamente ia tudo para uma salgadeira de madeira de castanho e nós depois comíamos assim do sal”.

A casa onde mora na aldeia da Corujeira é a mesma onde viveu com os pais, que se tornou sua depois de comprar as quotas-partes dos irmãos, uns estão para a América, outro para o Canadá. Telhado novo, paredes de granito. No hall de entrada onde está uma manta para o Figo, o rafeiro que com ele guarda o rebanho de 130 ovelhas. A cozinha já não tem vestígios da vida de pobreza. É dominada por uma grande mesa de pedra, que gosta de ver cheia, de comida e de gente, e onde tira um café da nespresso antes de irmos até à corte, o terreno murado onde estão as Bordaleiras. “Já estou velhinho e não quero outra raça. Acabar com elas não acabo, só quando já não puder arrastar-me destes sofás”. Diz que está a ficar cansado, pastor a vida toda, empregado 33 anos na fábrica de lãs nos Coelhos.

“Esta é a história, d’A Lã e a Neve”, diz Miguel Rainha. É ele quem organiza as tosquias e recolhe a lã para a Burel, em Manteigas. A história, escrita por Ferreira de Castro, continua mais ou menos viva. A mãe de Horácio teve de empenhar os cobertores da família para poderem comer. Hoje a pobreza não será tão pobre.

Seguimos para a corte, na Ribeira de Valhelhas, vale verde e fértil onde a água canta depois de um inverno que deixou a terra ensopada. As ovelhas seguem o pastor, num bailado de lã e badalos, campo fora, estrada fora, até à corte para onde correm chamadas pela erva fresca. O sr. Manuel aponta uma, de cabeça no ar, quando todo o rebanho aspira o verde. “Está desconfiada, veja só, é como os humanos. Tão desconfiada que nem come”. Manuel liga a vedação elétrica que mantém o rebanho confinado aquele terreno. “Chamam-lhe o pastor”, diz bem-disposto sobre o dispositivo que lhe permite subir à aldeia para acabar de plantar os morangueiros. Despede-se em jeito de epitáfio: “Isto é como os jogadores de futebol que vestem a camisola. Eu vivi disto e vou morrer disto”.

Em maio, os dois homens têm encontro marcado. Miguel Rainha voltará à Corujeira na altura das tosquias. É ele quem faz a ponte entre os pastores e a Burel Factory, fábrica de lanifícios de Manteigas (uma das duas que ainda tece burel), selecionando a lã que há de chegar aos teares. O burel está na moda e a lã que há meia dúzia de anos valia 35 cêntimos o quilo, está agora a €1,20 ou mais, dependendo da qualidade. “Isso foi um trabalho que a Burel fez, valorizou a lã, o trabalho dos agricultores, e preserva as raças autóctones”.

Manuel Neves, pastor desde os 7 anos com o seu rebanho
Ana Baiao

Miguel Rainha é programador artístico há três décadas. Natural da Covilhã, tem fortes ligações à terra e às gentes. Esta “profissão” de escolher lãs foi nascendo de um projeto que fez na aldeia de Maçaínhas, para salvar o tradicional cobertor de papa, feito com lã de ovelhas das raças Churra do Campo e Mondegueira. “Eu tenho uma profissão ligada à cultura, é um prolongamento natural”. A sua paixão pelas pessoas e seus modos de vida levou-o a criar um projeto, a Trans Húmus, onde faz peças de teatro com os pastores, oficinas de queijo, e inusitadas iniciativas. “Já dei início a coisas que parecem normais e tradição e não são. Por exemplo a festa da transumância, os chocalhos, em Alpedrinha. Eu sou o pai dos chocalhos.”

O ciclo da lã vai-se renovando, aos poucos. No alto da Estrela, nos casais do Folgosinho, Ana Teresa Matos e André Marques cuidam do rebanho de 20 Bordaleiras, e querem transformar o seu terreno de cem hectares numa paisagem biodiversa. O fogo do verão poupou-lhes, por um triz, a casa e as ovelhas, mas reduziu a cinzas a terra. Voltaram a arregaçar as mangas. Têm 31 anos e estão há quatro naquele fim de mundo, entre montanhas e céu. Vieram com a pandemia. Venderam uns terrenos da família e compraram o paraíso.

Ana, natural de Mafra, e André, de Vila Franca de Xira, conheceram-se na faculdade em Lisboa através de amigos comuns. Ela estudava Biologia, ele Arqueologia. “Comecei a interessar-me sobre como podia haver uma existência harmoniosa entre pessoas e natureza, através de técnicas inovadoras com base na ciência, mas também em processos ancestrais”, diz a novel pastora. Desde miúda que vinha com os pais, também biólogos, para a serra da Estrela estudar a lagartixa da montanha. “Começámos a imaginar como podia ser o interior do país de uma maneira diferente, mais sustentável”. Isso levou-a a nova licenciatura, em Engenharia Florestal, na Universidade de Trás-os-Montes, em Vila Real, e a fazer a Escola de Pastores e a Escola de Queijeiros, em Viseu, na Escola Superior Agrária. Tem um sorriso profundo. Não se imaginam a viver em mais lado nenhum, cultivando a terra e as relações humanas com a comunidade. Querem ser herdeiros de um conhecimento que se foi abandonando, dos saberes da terra, das estações, da natureza. “Num espaço de cem anos desligámo-nos completamente, não é sustentável”. Vão juntando e, depois, deitando à terra bolotas de carvalho e castanheiro de cada vez que saem para os pastos, ou convocando ajudantes pelo Facebook a troco de um piquenique com o que produzem na quinta (queijo, requeijão). Querem recuperar a floresta autóctone.

Um coro de mééés dos borregos a chamar pelas mães foi a banda sonora desta conversa. Em maio deverão receber a visita de Miguel e dos tosquiadores. As almofadas de lã destes novos pastores também vão para a fábrica. Com escala “na Tavares”.

Miguel Rainha dedica-se a preservar o património
Ana Baiao

2. Lavadouro: Metade da lã portuguesa vai para o lixo

Começou no início do século na freguesia de Trinta, junto ao Mondego, pelas mãos do bisavô de Pedro Tavares. A têxtil Manuel Rodrigues Tavares, conhecida como Lavadouro (embora faça mais do que lavar lã), tem hoje 70 funcionários, longe dos 450 que empregava nos tempos áureos da lã na Serra da Estrela. Os tempos em que nos Trinta, uma pequena aldeia, havia sete fábricas, todas da mesma família, propriedade de vários primos. Uma rivalidade familiar que fez desenvolver a indústria têxtil junto ao Mondego que lhe corre no vale – foi a primeira aldeia do distrito da Guarda a ter luz elétrica. Os lanifícios punham comida na mesa a muitas famílias. Com a crise, as fábricas foram fechando. O tempo voltou a abri-las, mas em ruínas, junto aos novíssimos Passadiços do Mondego, que se entopem de turistas aos fins de semana e no tempo quente.

“Uma delas era a nossa”, diz Pedro Tavares, sentado na sala de reuniões da fábrica na Guarda. A Têxtil Manuel Rodrigues Tavares tem novas instalações na zona industrial. Dali saem seis milhões de quilos de lã lavada (da qual só 20% é portuguesa), mais de 90% destinada a exportação. O Lavadouro cheira a muitas ovelhas (lanolina, o melhor que se pode usar na cosmética, precisa o administrador), e está pejado de ovelhas despidas – o velo, assim se chama à lã de cada animal depois de tosquiada. Um gigantesco armazém, maior do que um campo de futebol, com um pé direito altíssimo, está praticamente repleto de fardos de lã para tratar. Uma pequena parte é nacional, e dessa uma ainda menor será burel. “O burel é um nicho de mercado. A dona da Burel Factory começou a usar o burel para outras iniciativas, como a arquitetura, e o vestuário, e isto animou. Mas nós lavamos a lã toda para Burel Factory em dois dias”, diz Pedro Tavares.

Pedro e Manuel Tavares estão à frente do Lavadouro de lãs da Guarda
Ana Baiao

Com o primo Manuel, gere a empresa familiar. Lutam para revitalizar a lã, especialmente a portuguesa, numa luta desigual com o poliéster. “É um problema mundial, a lã entrou em desuso. O preço começou a contar mais que a qualidade, e foram-na substituindo por poliéster. E a lã nem sequer é cara. Pode ir de €3 a €20 o quilo, depende da qualidade. A nossa lã [portuguesa] pode ir até aos €6. Quando estamos a falar de €20 são as melhores lãs, que são as australianas”, explica. Entre as lãs portuguesas, é o merino do Alentejo que dá a lã mais fina e é “ótima para malhas”. Pedro Tavares diz que metade da lã portuguesa vai para o lixo. Isto porque de cada velo praticamente metade não se aproveita, por ser de pior qualidade ou devido à sujidade (e as ovelhas transportam muita), e também porque a lã churra de Trás-os-Montes, que é mais grossa, entrou em desuso com a falência da indústria dos tapetes.

A escolha inicial dos velos é feita por mãos ladinas de mulheres, as apartadeiras. Gestos rápidos, há anos replicados. Só depois dessa seleção são colocados num enorme lavadouro, oitenta metros de comprimento, em que a lã vai sendo lavada e enxaguada, lavada e enxaguada. “O processo de lavagem é tal e qual fazemos à mão”, diz Pedro Tavares. É difícil concordar, quer pela quantidade de lã, como por toda a parafernália de máquinas onde a lã é comprimida depois de sucessos enxaguamentos, até chegar ao fim do circuito, cuspida do derradeiro rolo antes de ser colocada no secador. Sai de lá irreconhecível. No caso da lã clara, é como se fosse uma lustrosa cabeleira de cãs.

Dali segue para a fiação (a Manuel Tavares Rodrigues faz, na unidade da Covilhã), ou em bruto, dependendo dos clientes. O fio, vai para malhas, no Norte da Europa e Alemanha, tudo o que é lã em bruto segue para Espanha (80% do mercado da têxtil). Só há dois lavadouros na Península Ibérica e a Tavares é o único que faz penteação (preparação antes de fiar). “Temos mais de cem anos. Somos os últimos. Foi difícil, muito difícil. Estamos no princípio da cadeia, os nossos clientes são fábricas, e as falências que se deram ao longo dos últimos anos apanharam-nos sempre. Foram milhões de euros de perdas. Estivemos quase a fechar, só não fechámos quase por loucura, porque isto vem da família. Mas investimos e estamos a recomeçar a aumentar. O futuro o dirá”, diz.

A escolha dos velos é um trabalho manual
Ana Baiao

3. Na fábrica-museu: Uma orquestra de teares

Aninhada em Manteigas está a Burel Factory. Ocupa as instalações da Sotave, o grande empregador da vila serrana que faliu em 2005 e atirou 50 pessoas para o desemprego (chegou a empregar 800). Anos depois, em 2011, seria a vez de a Lanifícios Império fechar as portas. Mas dessa vez só parou um mês. Isabel Costa e o marido, João Tomás, alugaram as máquinas ao administrador judicial e contrataram os dez funcionários para pôr em marcha uma importante encomenda de burel para decoração da nova sede da Microsoft em Portugal. Foi o princípio da nova vida do tecido de lã grosseiro usado por pastores.

Gestores de topo – ela engenheira, administradora da Sonae, gigante alimentar onde estava há duas décadas, ele jurista, diretor central do Millenium BCP -, dedicam-se a dar vida ao património (compraram em leilão, em carta fechada, as máquinas da Império). João é apaixonado por montanha e natureza e vinha manifestando vontade de mudar de vida. Começaram pelos hotéis (Casa de São Lourenço, um cinco estrelas, e Casa das Penhas Douradas, quatro estrelas), antes de se dedicarem à industrial têxtil. “É a vida que nos leva e estarmos abertos a ver as coisas de forma diferente. É a paixão pelo património. Isto não tem sido nada planeado, vai ocorrendo”, diz Isabel, de 56 anos.

Em onze anos, primeiro João, depois Isabel deixaram as suas grandes empresas e tornaram-se empresários na Serra da Estrela. A Burel Factory foi crescendo. O tecido foi ganhando cor, além da natural que era a tradicional das capas dos pastores. A fábrica-museu, como muitos lhe chamam, labora com impressionantes máquinas de quatro gerações, que vão do século XIX ao XXI, que vieram de empresas que se foram apagando, como a Império, mas também a Fábrica dos Carvalhos em Seia, a Lanifícios Camelo e a Serralã, dos Trinta, com o casal a lutar para que não acabem na sucata. O investimento total ronda os €3 milhões. Para além do equipamento, lutam também pela preservação do saber. “Não deixar que o conhecimento morra com as máquinas. É essa a grande responsabilidade”, diz Isabel.

A mais recente aquisição foi o material para cardação e fiação do enorme Tear Porto. Com esse equipamento, José Luís, o diretor da fábrica, está pôr de novo o tear a funcionar, com apoio de antigos trabalhadores têxteis. “Eu já não tinha capacidade económica e surgiu a oportunidade. O João tem 65 anos e nessa semana tinha acabado de receber o seu PPR que tinha acabado de vencer. Ele olhou para mim e disse ‘bom, acho que te posso dar a máquina’. Tinha a vida toda destinado aquele dinheiro a fazer uma grande viagem.” O tear de 24 pentes vai recuperar um padrão dos anos 50 numa manta, que é toda ela um livro. “Só vamos conseguir fazer três por dia, aquilo é arte. Depois não se pode vender a um preço normal, como é obvio”. A Burel posicionou o tecido dos pastores num segmento médio-alto do mercado.

Depois de urdida, a lã entra num destes rolos e é colocada no tear
Ana Baiao

De paixão em paixão, a lã continua a correr nas bobines e a dar forma a panos e mantas. À arquitetura, importante segmento de negócio, e às mantas, juntou-se no início deste ano a roupa. A primeira coleção, com edições limitadas em padrões coloridos, está na loja do Chiado, em Lisboa, e na fábrica já se trabalha para a frente: “Vamos buscar os clássicos da Lanifícios Império, o risca de giz, o príncipe de Gales”. Para confecionar o burel, usam lã das ovelhas Bordaleiras da serra, para as mantas usam merino alentejano. Sempre lã nacional, e mais encomendas houvesse lã não faltaria. “As associações estão cheias de lã até ao teto. Era bom termos mais produção para ajudar a escoar mais”. Trabalham com lã estrangeira para dar resposta a pedidos de empresas estrangeiras, como a suíça Baabook, cliente desde o primeiro dia, ou em projetos específicos de revitalização patrimonial.

Na fábrica-museu de Manteigas, o ritmo é dado por uma orquestra de teares, ritmados, que parecem marcar a cadência do novo tempo antigo. Ali trabalham 40 pessoas, antigos funcionários têxteis (e alguns novos que estão a receber formação, travando ou revertendo a saída para o litoral ou do país). Há vários elementos das mesmas famílias, como sempre aconteceu neste tipo de indústria. A maior parte são de Manteigas, outros de Valhelhas. A lã lavada na Guarda chega à sala onde é cardada num gigante de ferro do século XIX (1898), segue para a fiação, onde se transforma em fio, ganhando a torção desejada, passa para bobines maiores (na bobinagem), e daqui para a urdideira, onde os fios se encaminham, conforme o padrão do tecido, para o grande rolo que entrará no tear. Só depois os pentes começam a funcionar e a tecer a fazenda dos pastores da serra, agora à descoberta do mundo.

Nos teares centenários todos os fios contam
Ana Baiao
Burel é tecido com novas cores
Ana Baiao

Na sala de corte e costura, Maria José risca com giz no burel laranja os moldes da camisa do pescador. Marta está a costurar uma capa de queijeira, Ana a domar a máquina de costura, preenchendo pequenos pedaços de burel num painel para revestimento (tarefa que há de demorar uns três dias a concluir). Amélia está a colocar os fios que, por alguma razão, faltam nos panos. E isto é um assunto.

Já antes, na sala dos teares, viramos quilómetros de fios, a que os leigos chamariam emaranhado, e que para cada uma daquelas pessoas é uma gramática simples. Detetam uma falha e, ainda no tear, repõem-no num inquietante quebra-cabeças. Depois, no controle de qualidade, há mulheres que passam os dias a ver as fazendas e assinalar com linha de cor contrastante as falhas. São estes panos que Amélia Brazete, cerzideira desde os 14 anos, preenche, num trabalho minucioso. Filha de pastores, fez a quarta classe e seguiu para a costura das lãs. Mesmo destino teve a irmã, que trabalha a seu lado, e um irmão e duas cunhadas. Trabalhos lentos, manuais, feitos com sorrisos.

Já nos despedíamos da azáfama da lã quando alguém chama a atenção para os painéis de píxeis, em burel. “Aponte a câmara que se vê melhor”. Apontamos. No primeiro painel revela-se a Rainha Isabel II. Mais à frente, numa sala recatada, outro painel. Câmara. É uma bordaleira da Serra da Estrela, feita de pedaços de burel colorido.

As mãos de Amélia, cerzideira desde os 14 anos
Ana Baiao
Moldes prontos a seguir para as costureiras
Ana Baiao
Na costura as peças de vestuário ganham forma
Ana Baiao
Teresa a coser à mão os favos para uma almofada
Ana Baiao
Ana a fazer um painel para revestimento. Os pequenos pedaços de burel são cosidos um a um
Ana Baiao
O fio de lã de bordaleira
Ana Baiao
As mantas e os panos prontos a seguir viagem na zona de armazém da Burel Factory
Ana Baiao
A bordaleira feita de píxeis
Ana Baiao

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários

Assine e junte-se ao novo fórum de comentários

Conheça a opinião de outros assinantes do Expresso e as respostas dos nossos jornalistas. Exclusivo para assinantes

Já é Assinante?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate
+ Vistas