Ambiente

Espécie de peixe única no mundo pode ter sido extinta no rio Mira

Foz do rio Mira, em Vila Nova de Milfontes
Foz do rio Mira, em Vila Nova de Milfontes
Jose Carvalho / CM Odemira

Associação ambientalista Zero revela que escalo-do-Mira poderá estar extinto devido às alterações climáticas: “O país tem a responsabilidade total quanto à sua conservação”

O escalo-do-Mira, um peixe que só existe na bacia do rio Mira, poderá já estar extinto, vítima das alterações climáticas, revela a associação ambientalista Zero, que acusa o Governo de não preservar valores naturais ameaçados.

A informação da possível extinção, hoje divulgada em comunicado, foi obtida pela própria associação no local, ao constatar que a ribeira do Torgal, curso de água da bacia hidrográfica do Mira, secou quase totalmente.

De acordo com a informação da Zero, o único local que não terá secado em toda a bacia hidrográfica foi o pego das Pias, podendo ter sobrevivido aí alguns exemplares, embora no local existam espécies exóticas invasoras "que tornam improvável qualquer cenário que não a extinção da espécie".

Tendo em conta que, "inexplicavelmente, a espécie terá deixado de ser alvo de um programa de reprodução em cativeiro para prevenir precisamente situações previsíveis como esta", a associação alertou o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, para a "tragédia ambiental" e pediu ações urgentes para avaliar se ainda existem alguns exemplares do escalo-do-Mira (Squalius torgalensis), diz-se no comunicado.

A Zero sublinha tratar-se de uma espécie única no mundo, que só existe em Portugal, para argumentar que "o país tem a responsabilidade total quanto à sua conservação".

Na informação ao ministro, a associação ambientalista notou que, caso tenha havido mesmo uma extinção, se está perante uma "incompreensível inação" das autoridades, em particular do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), mais grave por se tratar de uma zona dentro do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina.

É também uma situação que representa uma política pública "presa por arames", em que "reina a desatenção completa em relação à conservação dos valores naturais e em que a contínua falta de definição de prioridades só poderá ter como resultado o futuro agravamento do estado de conservação das espécies e dos seus habitats".

Crítica, a Zero fala de um caso "em que se falhou em toda a linha", faltando um programa de monitorização sistemática dos valores naturais ameaçados, um programa sólido de reprodução de espécies aquáticas em cativeiro, e uma politica de gestão dos recursos hídricos adequada face aos problemas.

Em julho último, aquando da apresentação do "Livro Vermelho dos Peixes Dulciaquícolas e Diádromos", os especialistas alertaram que mais de metade das espécies de peixes de água doce existentes em Portugal estão ameaçadas de extinção.

Filomena Magalhães, coordenadora do projeto, afirmou-se então preocupada com os endemismos lusitanos, as espécies que não existem em mais nenhum local do mundo e que apresentam praticamente todos risco de extinção extremamente ou muito elevado.

No Sistema Nacional de Informação Peixes de Água Doce e Diádromos (SNIPAD) o escalo-do-Mira surge classificado como "em perigo", estando proibida a sua pesca.

Já em 2010, uma notícia do Diário de Notícias alertava que o escalo-do-Mira estava em vias de extinção e que durante o verão apenas sobrevivia nos pegos, com especialistas a alertar para o perigo de desaparecimento da espécie.

No comunicado, a Zero exige medidas e reafirma que o essencial é que o Governo se comprometa com a prossecução dos objetivos de transformar pelo menos 30% da superfície terrestre e marinha da Europa em áreas protegidas geridas de forma eficaz, parte com proteção estrita, e melhorar o estado de conservação ou a tendência de, pelo menos, 30% das espécies e habitats protegidos da União Europeia que não se encontram atualmente em estado favorável.

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