A Beleza das Pequenas Coisas

Fernanda Lapa: “Um país que não trata bem os artistas está moribundo”

A atriz e encenadora Fernanda Lapa assume que é a teimosia que a faz levantar-se todas as manhãs com a convicção absoluta que nada, nem ninguém, a fará parar de trabalhar. Nem o raio do bicho. E, tal como o poeta José Gomes Ferreira, está cheia de “saudades do futuro.” O futuro que aí vem com a reabertura das portas do seu teatro, “A Escola de Mulheres”, no Clube Estefânia, em Lisboa, que acaba de celebrar 25 anos e que contribuiu para a evolução do papel das mulheres no teatro em Portugal. A vida de Fernanda dava várias peças de teatro, da comédia ao drama, feita de alegrias, conquistas e perdas. “Tenho tido desgostos profundos, mas sou uma privilegiada apesar de tudo.” Mas é sobre o futuro incerto do setor das artes, a desesperança, frustração e falta de dinheiro dos atores e técnicos e as novas “medidas absurdas” impostas para a reabertura das salas de espetáculo, a 1 de Junho, que arranca esta conversa. “Este país não é para artistas, nem para velhos, nem para novos”

Esta quinta feira ouviram-se os gritos de revolta e de socorro de centenas de profissionais da cultura que estão sem trabalho, sem dinheiro, sem horizonte, sem esperança, numa vigília pela cultura e pela arte em todo o país. Esta conversa com a atriz e encenadora Fernanda Lapa aconteceu dias antes e começou exatamente por aí. Pelas medidas de emergência que importam tomar para salvar a classe. “A única hipótese [decente] é o ordenado mínimo. Senão são... esmolas. Aliás, o teatro e artes de palco sobrevivem de ‘peanuts’, amendoins.”

Sobre a polémica nas redes sociais de quem afirma que os artistas “têm discursos miserabilistas” e “são queixinhas”, Fernanda Lapa comenta:Há a ideia que nos lamentamos. Que somos subsídio dependentes. Mas quem acha isso está perfeitamente fora da realidade e normalmente é dito por pessoas que vivem muito bem e que têm ordenados fixos e 13ª e 14º mês. Isto de nos lamentarmos muito...é o direito a reivindicar, o direito à dignidade e à cultura para todos. E para que haja cultura e artes não podem desaparecer os artistas. Aliás, este país não é para artistas, nem para velhos, nem para novos. Neste momento estão a saltar cá para fora todas as fragilidades que ao longo dos anos este país tem escondido.”

Fernanda, mulher de luta e de garra, recorda a infância, os amores, o primeiro casamento que a levou de uma prisão para outra, as dificuldades por que passou enquanto mãe divorciada com 3 filhas, a dura perda da filha Mónica Lapa (coreógrafa criadora do festival “Danças na Cidade”) e a paixão eterna pelo teatro que morrerá consigo.

E ainda partilha algumas das músicas da sua vida. Isto e bem mais para ouvir neste episódio do podcast "A Beleza das Pequenas Coisas".

Desta vez, a edição áudio é do Rúben Tiago Pereira. E, como habitual, o genérico desta temporada é uma criação original do músico Luís Severo.

Mantemos o desafio a todos os ouvintes para que enviem as suas opiniões, sugestões, histórias e comentários para o seguinte email: abelezadaspequenascoisas@impresa.pt

Este podcast entra agora em "desconfinamento" para banhos e sol. Voltamos em setembro. Até lá, pratiquem a empatia, protejam-se e boas conversas!

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