A proposta de Orçamento do Estado para o Ambiente e Ação Climática em 2022 baixou ligeiramente face à proposta apresentada em outubro de 2021. Em vez de 3,82 mil milhões de euros, conta agora com 3,79 mil milhões de euros, o que equivale a uma variação de 42,4% face à despesa consolidada em 2021.
A maioria da receita para cobrir estas despesas resulta das verbas arrecadadas pelo Fundo Ambiental (resultantes do Comércio Europeu de Licença de Emissão — CELE). O Ministério do Ambiente já tinha anunciado em março que o Fundo Ambiental teria este ano a sua maior dotação de sempre — 1.125 milhões de euros, quase o dobro da verba orçamentada para 2021 (571 milhões de euros).
De acordo com o Programa de Governo, este pacote servirá para financiar a ação climática e a política do ambiente, e apoiar projetos de promoção da mobilidade sustentável, descarbonização das cidades e da indústria, adaptação e cooperação em matéria de alterações climáticas, recursos hídricos, economia circular e resíduos, danos ambientais, conservação da natureza e biodiversidade e educação energética e ambiental.
€775,3 milhões para os transportes
A maior fatia do bolo da despesa vai para “outras funções económicas — administração e regulamentação”, com 957,2 milhões de euros (33,8%). A segunda (27,3%) vai para os transportes ferroviários, com 775,3 milhões de euros. É aqui que entram os orçamentos e a expansão do Metropolitano de Lisboa e da Metro do Porto, assim como o Programa de Apoio à Redução Tarifária dos Transportes Públicos (PART) e o Programa de Apoio à Densificação e Reforço da Oferta de Transporte Público (PROTransP).
A terceira maior fatia do OE do Ministério do Ambiente está associada ao Plano de Recuperação e Resiliência (347 milhões de euros) e vai para “projetos no domínio da eficiência energética em edifícios, descarbonização dos transportes públicos e energias renováveis e bioeconomia sustentável”. A aposta pretende seguir em linha com a Lei Europeia do Clima, o Pacto Ecológico Europeu e o pacote Fit for 55, que tem por objetivo a descarbonização da Europa, para que se torne “o primeiro continente climaticamente neutro”. Recorde-se que o PRR previa que 38% das verbas fossem destinadas à ação climática.
Espera-se que acelerem as execuções do Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC2030) — concretizando a redução de 55% de emissões de gases com efeito de estufa até 2030, em comparação com 2005; assim como a meta de ter 47% de energia de fonte renovável no consumo final bruto de energia até 2030. A Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2) e as Estratégia de Longo Prazo para a Renovação de Edifícios (ELPRE) e Estratégia de Longo Prazo para o Combate à Pobreza Energética, são dois outros pacotes cuja aplicação deverá começar a acelerar.
Paradoxos na conservação da natureza
Para a “proteção do meio ambiente e conservação da natureza” vai a quarta fatia do bolo (193,5 milhões de euros). Aqui entra tudo o que tem a ver com questões relacionadas com água, poluição do ar, ruído, resíduos, biodiversidade e conservação da natureza, entre outros.
O Governo diz pretender que, “em 2022, se inicie um Ano dedicado à Natureza, dando primazia à execução das medidas de concretização previstas na Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030 (ENCNB 2030), nomeadamente aos níveis da recuperação de ecossistemas degradados por impactos severos e da proteção de habitats de espécies ameaçadas”. Ver-se-á se o dinheiro chega e se paradoxalmente se continuam a aprovar projetos agrícolas, imobiliário-turísticos e industriais, com impactos ambientais contrários à estratégia sublinhada.
A par de o Programa de Governo defender “garantir a valorização do território e a preservação do património, o conhecimento, a mitigação de danos ambientais e a reabilitação ambiental e paisagística”, também afirma pretender concretizar, em 2022, o concurso público para atribuição de direitos de prospeção e pesquisa de depósitos minerais de lítio e minerais associados.
A indústria e energia segue em quinto lugar na distribuição do dinheiro (com 191,7 milhões de euros).
E em sexto surge o Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais (133,0 milhões de euros), a que acrescem 43,6 milhões para as florestas, que no seu conjunto ficam com pouco mais de 6% do orçamento.
As verbas vão, segundo o Programa, servir para avançar com a transformação da paisagem dos territórios de floresta vulneráveis; com a reorganização do sistema de cadastro da propriedade rústica e do sistema de monitorização e ocupação do solo (SMOS); e com a prevenção e combate de fogos rurais. Entre outras coisas, também servirão para o desenvolvimento dos programas “Condomínio de Aldeia”, e "Emparcelar para Ordenar”, permitindo o aumento da dimensão física dos prédios rústicos em contexto de minifúndio
O programa do megaministério do Ambiente e Ação Climática não se fica por aqui, já que tem metas para cumprir no que respeita à reciclagem de resíduos, melhoria da qualidade do ar, controlo do ruído ambiente, reabilitação e valorização da rede hidrográfica e do ciclo urbano da água, mitigar e adaptar o país a secas, gerir áreas protegidas, conservar espécies da flora e da fauna prioritárias, e ainda combater o abandono e a superpopulação de cães e gatos e pôr em marcha o Programa Nacional para os Animais de Companhia.