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O telefonema que Trump nunca recebeu

O telefonema que Trump nunca recebeu

João Pedro Barros

Editor Online

Mike Segar

Boa tarde,

Confesso que hesitei no tema principal desta newsletter que agora lhe chega ao telemóvel ou ao computador: as buscas na TAP e o muito pouco dignificante caso das vagas “extra” (que não o foram) no curso de Medicina da Universidade do Porto seriam bons temas. No que toca a este último, o reitor esteve hoje no Parlamento e revelou que chegou a receber "ameaças físicas" para deixar entrar os candidatos sem a nota mínima – e disse mesmo o nome de um dos autores das pressões que denunciou ao Expresso no início do mês.

Porém, deixei-me tentar pela mais recente boutade de Trump: o homem que acabou "com sete guerras em sete meses" queixa-se de nunca ter recebido “sequer um telefonema da ONU”. “Estava demasiado ocupado a trabalhar para salvar milhões de vidas, mais tarde percebi que a ONU não estava lá para nós. Qual é o propósito da ONU, que tem tanto potencial”, perguntou na sua intervenção hoje, na Assembleia Geral da organização, em Nova Iorque, da qual lhe temos vindo a dar conta através do Expresso Fundamental.

Poderia ter graça, se não fosse trágico: o Presidente dos EUA assegura que muitos lhe dizem que “devia receber o Nobel da Paz”, mas ele trabalha, na verdade, para que “filhos e filhas” cresçam “com as suas mães e pais”, porque o que quer é salvar vidas. E parar guerras inexistentes, já agora, “entre a Sérvia e o Kosovo” ou “entre o Egito e a Etiópia”. Sobre conflitos verdadeiramente em curso, criticou os países – incluindo Portugal – que, nos últimos dias, avançaram com o reconhecimento do Estado da Palestina – e disse-se pronto para aplicar tarifas muito pesadas à Rússia”, mas só quando “as nações europeias se juntarem” aos EUA na mesma linha.

Mas as guerras não são o principal mal do mundo, ou pelo menos não o único: há "as migrações" e a "energia verde" – fatores que estão a colocar a Alemanha à beira do colapso, garante. Aliás, “o maior embuste” contra o mundo são “as alterações climáticas, inventadas por pessoas estúpidas”. E, em Londres, governa “um homem terrível, mesmo terrível” (Sadiq Khan) e querem agora “impor a Sharia”, a lei islâmica. Não sabemos de que Londres fala, mas não nos vamos aborrecer com detalhes.

O mais trágico: há coisa de uma década, tudo isto pareceria inimaginável de ser dito pelo homem mais poderoso do mundo, mas agora parece só mais um episódio do mundo de Trump, que vê o mundo à imagem do seu egocentrismo. De tal forma parece banal que, se calhar, teria sido boa ideia escolher um dos outros temas para esta newsletter.

Até amanhã.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: jpbarros@expresso.impresa.pt

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