5 Décadas de Democracia

Produtividade. “Criar riqueza em Portugal é urgente”

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As palavras são de Ricardo Parreira, CEO da PHC, mas a ideia é partilhada por economistas e académicos: o país tem de acelerar a produção de valor acrescentado para ser mais competitivo. Este foi o tema do quinto de dez debates que a Impresa e a Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) promovem desde maio. Até março, continuaremos a fazer um retrato das últimas cinco décadas de democracia em Portugal. Conheça as principais conclusões desta reflexão

O diagnóstico é conhecido, mas a realidade teima em manter-se inalterada. A produtividade é um dos calcanhares de Aquiles de Portugal, cujo valor é 28% inferior à média da Zona Euro. A última década tem sido de diminuição e a culpa, dizem os especialistas, é partilhada por todos: empresas, academia e Estado. “Temos uma grande parte dos empresários em Portugal sem formação superior e a maior parte sem formação de gestão. Precisamos de boa gestão”, apontou Ricardo Parreira, CEO da PHC, durante o debate “5 Décadas de Democracia: Como gerar riqueza em Portugal”.

A discussão, emitida na SIC Notícias com apoio da Fundação Francisco Manuel dos Santos, contou ainda com a presença do economista José Alberto Ferreira e de Céline Abecassis-Moedas, diretora de Formação de Executivos na Universidade Católica de Lisboa. Conheça as principais conclusões:

Mais e melhores competências

  • Para a académica, as universidades têm “um papel essencial” no aumento da produtividade, nomeadamente por via da aposta em ações de requalificação dos trabalhadores e da adequação das competências lecionadas às necessidades das empresas. “O papel entre o mundo empresarial e académico é trabalhar em conjunto para ter a certeza que a formação que preparamos é adequada”;
  • Esse investimento, considera José Alberto Ferreira, é fundamental para garantir que a geração mais qualificada de sempre pode explorar todo o seu potencial e, através dele, apoiar a inovação nas empresas. Se “os colegas de equipa [de um jovem muito qualificado] não têm o mesmo tipo de aptidões”, o ganho de produtividade para a organização “tende a ser muito mais reduzido”;
  • O líder da PHC reconhece que “os portugueses são, em geral, excelentes trabalhadores”, mas frequentemente subaproveitados e isso deve-se, em grande medida, às fracas capacidades dos gestores. “Podemos, e devemos, investir mais na capacitação dos nossos empresários”, insiste.

Obstáculos à competitividade

  • Se as responsabilidades são distribuídas entre empresas, academia e o Estado, a máquina pública é, para os participantes neste debate, um dos grandes empecilhos ao crescimento da economia. “A burocracia é, de facto, um problema para as empresas. São mais de 250 horas que uma empresa pequenita perde a cumprir fiscalmente com o Estado”, exemplifica Ricardo Parreira, que compara com os números registados na Estónia, onde são precisas menos de 50 horas;
  • O responsável refere ainda a legislação laboral como um dos desafios a resolver, já que “é muito rígida ao ponto de proteger a incompetência”. A consequência, considera, é tornar “difícil” o crescimento dos negócios e a subida dos salários no país. “O salário mínimo é uma vergonha”, sublinha, enquanto defende que “criar riqueza em Portugal é urgente”;
  • Céline Abecassis-Moedas, que tem desenvolvido investigação na área da indústria da moda e do têxtil, vê na política industrial um caminho de evolução potencial. “Portugal é um país que já tem uma tradição industrial bastante forte, mas sabemos que ser o subcontratado da Europa, que é muito o papel do país hoje, permite alcançar um certo nível de riqueza, mas não muito mais”, analisa;
  • O foco deve ser, defende, passar do selo fabricado em Portugal para algo como criado e desenhado em Portugal. “O calçado conseguiu, nos últimos 10 ou 20 anos, posicionar-se cada vez mais como uma indústria de design e de marca. Estamos a subir na cadeia de valor, é isso que me parece importante”, explica;
  • Para a transformação estrutural da economia, os fundos comunitários do Plano de Recuperação e Resiliência ou do Portugal 2030 podem ser importantes. Porém, avisa José Alberto Ferreira, o sucesso “depende muito da capacidade executiva” da máquina burocrática do Estado e isso, até agora, não se tem verificado. “Neste momento estou otimista, mas com alguma cautela”, refere o economista.

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