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André Peralta Santos: “É fundamental que a comunicação em saúde se adapte aos novos meios de informação"

André Peralta Santos na sede da DGS
André Peralta Santos na sede da DGS
Matilde Fieschi

“Garantir o acesso atempado a consultas — especialmente para quem se encontra em situação de maior vulnerabilidade — deve ser encarado como uma prioridade estratégica e ética do sistema de saúde”, afirma o subdiretor-geral da Saúde. Esta é a décima de dez entrevistas relacionadas com o estudo da GfK Metris para o Expresso sobre “A Saúde do Homem”. Recorde-as todas no final do artigo

Segundo o estudo “A Saúde do Homem” (que pode consultar na íntegra AQUI), os cancros do cólon e do reto (52%), do pâncreas (49%) e do pulmão (44%) estão entre os que mais preocupam os portugueses. 90% dizem preocupar-se com a saúde do(a) parceiro(a) — sobretudo devido a fatores como antecedentes familiares (41%), idade de risco (32%) e sedentarismo (31%). Por outro lado, há mais mulheres (28%) do que homens preocuparem-se com a saúde do parceiro por causa da pouca vontade/disponibilidade para consultar o médico, com 25% das inquiridas (também acima dos homens) a manifestarem preocupação pelo tabagismo do companheiro.

Apenas 8% dos portugueses afirmam ter ido ao médico por influência de campanhas publicitárias. Acha que as campanhas estão a falhar ou somos nós que não lhes damos atenção?

As campanhas de divulgação são, habitualmente, apenas uma componente de uma estratégia mais ampla de promoção da saúde e diagnóstico precoce. Em Portugal, a população está, de facto, cada vez mais sensibilizada para a importância da deteção precoce do cancro, como se comprova pela adesão significativa aos rastreios organizados, como os do cancro da mama, do cólon e reto, e do colo do útero, como se verifica nos relatórios da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Contudo, os dados sugerem que as campanhas publicitárias tradicionais poderão já não estar a ter o impacto desejado, sobretudo junto das faixas etárias mais jovens. Hoje, é fundamental que as estratégias de comunicação em saúde se adaptem aos novos meios de consumo de informação, nomeadamente as redes sociais, com mensagens mais diretas, personalizadas e disseminadas por canais digitais, onde estas gerações estão mais presentes. Não é tanto uma questão de falta de atenção do público, mas sim de uma necessidade urgente de inovar na forma como comunicamos.

Apesar de 14% do rendimento mensal dos portugueses ser destinado à saúde — com um peso maior entre as mulheres (19%) do que entre os homens (11%) — e de um terço da população admitir que esse esforço financeiro condiciona o acesso aos cuidados, 42% garantem nunca ter adiado consultas por questões económicas. No caso dos homens, essa percentagem sobe para 52%. Que leitura faz destes números?

Não é surpreendente que as famílias portuguesas suportem cerca de 30% da despesa total em saúde, um valor acima da média europeia, que ronda os 15%.

A resposta a este desafio passa, inevitavelmente, por iniciativas que promovam maior equidade no acesso. O Plano Nacional de Saúde 2030, liderado pela Direção-Geral da Saúde, aponta precisamente para uma visão de saúde sustentável e inclusiva, “de tod@s para tod@s”. Neste contexto, garantir o acesso atempado a consultas — especialmente para quem se encontra em situação de maior vulnerabilidade — deve ser encarado como uma prioridade estratégica e ética do sistema de saúde.

40% dos doentes com HIV/SIDA dizem já ter sido vítimas de estigma ou discriminação e 60% não se sente confortável em revelar o seu estado de saúde. Num país que se quer inclusivo e informado, o preconceito continua a ser, para muitos, a parte mais invisível e dolorosa da doença. Como é que a situação ainda se justifica?

Portugal e a DGS celebraram, no ano passado, os 40 anos da resposta ao VIH, com o lema “Seguimos juntos”, transmitindo uma mensagem forte de inclusão das pessoas que vivem com VIH. Sabemos que o estigma continua a existir — e para muitos é, ainda hoje, a parte mais invisível da sua condição — mas também é importante reconhecer os grandes progressos alcançados na sua redução, na melhoria do acesso a cuidados e na promoção de uma cultura de inclusão.

A DGS tem tido um papel relevante neste percurso, apoiando organizações de base comunitária em projetos de inclusão, sobretudo junto das populações mais vulneráveis. Sentimos que este é um caminho em permanente construção, mas acreditamos que estamos cada vez mais próximos de um futuro sem estigma para as pessoas que vivem com VIH.

Nome: André Peralta Santos

Idade: 40 anos

Profissão: Médico e professor universitário

Resumo profissional: Subdiretor-Geral da Saúde e professor na Escola Nacional de Saúde Pública. Médico especialista em saúde pública desde 2015, é mestre em medicina e saúde pública pela Universidade Nova de Lisboa e doutorado em saúde global pela University of Washington (Fulbright, 2023). Exerceu funções como diretor de informação e análise na Direção-Geral da Saúde (2020–2021) e coordenador do projeto PaRIS da OCDE. Dedica-se à investigação sobre o impacto de doenças com potencial epidémico nos sistemas de saúde.

Lema de vida: Otimismo impaciente

“A Saúde do Homem” é uma iniciativa que visa retratar os cuidados de saúde da população masculina e sensibilizar a sociedade para a importância da prevenção e do tratamento de doenças que a afetam. Um projeto Expresso, com o apoio da Johnson & Johnson Innovative Medicine e o apoio institucional da Ordem dos Médicos.

Este projeto é apoiado por patrocinadores, sendo todo o conteúdo criado, editado e produzido pelo Expresso (ver Código de Conduta), sem interferência externa

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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