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A importância de ser realmente sustentável

Há cada vez mais empresas a adotar tecnologias que minimizem os impactos ambientais dos seus negócios
Há cada vez mais empresas a adotar tecnologias que minimizem os impactos ambientais dos seus negócios
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Empresas. Ser amigo do ambiente obriga a mudar a cultura empresarial, como se exige aos nomeados para os prémios IRGA. Quem dá o dinheiro preza um modelo de negócio sustentável e ético

Ana Baptista

Sustentabilidade e tecnologia. Estas duas palavras têm sido das mais usadas nos últimos anos, tanto individualmente como em conjunto e tanto nas empresas como nas casas. Mas a ligação entre as duas não é uma moda de agora. “É, praticamente, a história da Humanidade desde os seus primórdios”, comenta o economista Vítor Bento. “Desde logo, com a revolução agrícola que permitiu uma maior produção de alimentos com os mesmos recursos da Terra. E depois, com os progressos da ciência que alimentaram sucessivas revoluções industriais (já vamos na 4.0), que melhoraram muito a vida e o conforto”, acrescenta. Contudo, repara, “algumas vezes excedemo-nos, destruindo muita coisa à nossa volta, com a ilusão de progresso”, pondo em causa “a sustentação da vida humana”. E foi quando nos apercebemos disso que as palavras sustentabilidade e tecnologia saltaram em força para a opinião pública. “A sustentabilidade é um grande desafio desde que se provou que a forma como o homem estava a usar os seus recursos podia pôr em causa o planeta”, diz o também economista João Moreira Rato.

A passagem desta perceção à ação foi-se fazendo — ainda que para muitos de forma mais lenta do que se devia — com desenvolvimentos tecnológicos nas renováveis, nas casas e edifícios inteligentes, ou nos carros elétricos. A pandemia foi, depois, “um acelerador no incremento da adoção tecnológica” ao serviço do ambiente, com as pessoas e as empresas a perceberem que há processos digitais que permitem “reduzir ações que não são muito amigos do ambiente”, comenta o CEO da Deloitte Portugal António Lagartixo.De facto, os últimos dois anos e meio foram profícuos nesse aspeto. Por exemplo, as vendas de carros 100% elétricos cresceram 70% em 2021; a EDP e a Tejo Energia encerraram as duas únicas centrais a carvão do país; as renováveis abasteceram 59% do consumo de energia; a Galp anunciou um projeto de produção de hidrogénio em Sines; a Jerónimo Martins conseguiu uma redução de oito toneladas de CO2 por viatura só nos camiões frigoríficos — porque usam uma tecnologia que aproveita a energia do motor para arrefecer a caixa refrigerada —; a frota elétrica dos CTT chegou aos 400 veículos; e há cada vez mais exemplos de empresas e organizações a apostar na reciclagem e na economia circular, como é o caso da IKEA.

Contudo, para João Moreia Rato, os próximos anos podem ver transformações ainda mais rápidas, muito por causa da guerra na Ucrânia e do impacto que está a ter na economia. “O mecanismo preço é bom para acelerar estes processos. É nestes períodos que se encontram novas soluções”, diz, antecipando novidades no armazenamento de CO2, na descentralização da produção de eletricidade ou nos carros elétricos. “A tecnologia foi-nos permitindo encontrar respostas para desafios que achávamos impossíveis”, diz Vítor Bento.

Dinheiro precisa-se

Já se percebeu que a tecnologia tem um papel relevante na sustentabilidade, mas a ligação entre as duas também está a ajudar a moldar os negócios e a cultura das empresas das pessoas, nota António Lagartixo, justificando, assim, o tema da 34ª edição dos Investor Relations & Governance Awards (IRGA): Shaping human lives through sustainability and technology. “As possibilidades abertas pela tecnologia e pela sustentabilidade espoletaram um processo de reflexão nas empresas e a melhoria das condições do governo societário e de mercado passou a estar no centro das preocupações”, diz. Mas não só por uma questão cultural. É que este tipo de projetos tecnológicos em prol da sustentabilidade, como por exemplo, uma fábrica passar a usar eletricidade em vez de gás natural, “são caros” e para as empresas os concretizarem “precisam de financiamento”, diz João Moreira Rato.

E esse dinheiro vem, quase sempre, do mercado de capitais para quem importa, cada vez mais, o modelo de negócio das empresas e o impacto que têm na sociedade e no ambiente, acrescenta. Esse será, aliás, um dos elementos em análise na escolha dos vencedores dos IRGA deste ano. “São prémios ligados ao mercado de capitais e é importante que as empresas tenham mecanismos de governança sustentáveis e uma boa relação com os investidores”, conclui João Moreira Rato. Aliás, esta semana, numa entrevista ao jornal “Público”, o ambientalista e escritor Bill McKibben dizia que, na transição energética, “Wall Street pode ser mais eficaz do que a ONU”.

Nomeados dos 34ª IRGA

Os Investor Relations & Governance Awards (IRGA) atribuem prémios com nomeados votados por um colégio eleitoral e outros escolhidos pelos jurados. Serão entregues a 26 de maio numa cerimónia no Convento do Beato. Estes são os nomeados e os prémios

Melhor CEO (presidente executivo)

António Rios de Amorim
Corticeira Amorim

Foi o vencedor na 33ª edição dos IRGA

João Manso Neto
Greenvolt Energias Renováveis

É a primeira vez que é nomeado neste cargo, assumido em 2020

Miguel Maya Millennium
BCP

Ganhou este prémio na 32ª edição

Miguel Stilwell d’Andrade
EDP

É a primeira nomeação neste cargo, assumido em 2020

Melhor CFO (administrador financeiro)

Ana Luísa Virgínia
Jerónimo Martins

Estreou-se nas nomeações o ano passado, porque assumiu o cargo em 2019

Cristina Rios de Amorim
Corticeira Amorim

Ocupa o cargo há 19 anos e já foi nomeada várias vezes. Ganhou na 29ª edição

Filipe Crisóstomo Silva
Galp Energia

Está na Galp desde 2012 e já foi nomeado várias vezes

Miguel Bragança
Millennium BCP

Ocupa o cargo desde 2012 e já recebeu várias nomeações, tendo ganho na 27ª edição

Rui Teixeira
EDP

Tem um longo historial de nomeações e duas vitórias (2011 e 2013)

Melhor IRO (relação com os investidores)

Ana Negrais de Matos
Corticeira Amorim

Já recebeu várias nomeações, mas ainda não ganhou

Bernardo Collaço
Millennium BCP

Estreou-se nas nomeações o ano passado porque assumiu a função em 2019

Miguel Viana
EDP

Soma várias nomeações e ganhou na 32ª edição

Nuno Vieira
CTT

É uma estreia e um regresso dos CTT às nomeações nos IRGA

Otelo Ruivo
Galp

É a segunda vez que é nomeado. A primeira foi na 31ª edição

Prémio Iniciativa Sustentável

Reconhece uma iniciativa com impacto social e ambiental

Prémio Transformação

Premeia um projeto relevante na transformação de uma empresa

Prémio Carreira

Distingue uma carreira de relevo no mercado de capitais

IRGA AWARDS 2022

O Expresso associa-se à 34ª edição dos Investor Relations & Governance Awards (IRGA), prémios promovidos pela Deloitte, que distinguem os CEO e CFO do país que mais se destacaram no último ano.

Textos originalmente publicados no Expresso de 6 de maio de 2022

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