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Rede Expressos: FlixBus? "Não temos medo de fundos de investimento"

Rede Expressos: FlixBus? "Não temos medo de fundos de investimento"
Nuno Botelho

Número de passageiros da Rede Expressos aumentou 20% no ano passado e 18% no primeiro semestre deste ano. Empresa não teme a concorrência - “quando chegaram disseram que em dois anos teriam 70% do mercado e terão à volta de 30%”, diz Martinho Costa, presidente da Barraqueiro Transportes, maior acionista da Rede Expressos

Rede Expressos: FlixBus? "Não temos medo de fundos de investimento"

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

Rede Expressos: FlixBus? "Não temos medo de fundos de investimento"

Nuno Botelho

Fotojornalista

O presidente da Barraqueiro Transportes, que é a maior acionista da Rede Expressos, com 50%, diz em entrevista ao Expresso que a empresa “não tem medo dos fundos de investimento”, numa alusão aos fundos que entraram há um ano no capital da alemã FlixBus. Reconhecendo que tem sido feito um “esforço muito grande para acompanhar o mercado na luta com a concorrência”, adianta que a empresa continua a crescer significativamente no número de passageiros. O mercado do transporte rodoviário de passageiros teve uma expansão muito significativa não apenas devido à concorrência e à consequente descida de preços mas também por causa do aumento de turistas e imigrantes em Portugal, explica Martinho Costa.

Como correu a atividade da Rede Expressos no ano passado e como está a correr este ano?

Em 2024 transportámos mais de 11 milhões de passageiros, o que significa 20% de aumento em relação ao ano anterior e aumentámos em 14% a oferta em termos de quilómetros produzidos. 2025 vai no bom caminho. Temos 18% de aumento de passageiros transportados no primeiro semestre e 6% de aumento da oferta, fomos mais moderados no aumento da oferta, contamos atingir no final deste ano à volta de 12 milhões de passageiros. Os preços em face da concorrência têm vindo a baixar todos os anos, mas mesmo assim os nossos resultados melhoraram em 2024, foi um esforço muito grande para acompanhar o mercado na luta com a concorrência, e em 2025 teremos certamente um resultado bom.

De quanto foram os resultados em 2024?

Temos estado a recuperar dos quase €5 milhões de prejuízo registados durante a pandemia, no ano passado tivemos lucros na ordem de 1,3 milhões, fizemos uma amortização da dívida contraída naquele período, que ainda continua por resolver e, efetivamente nos próximos dois anos julgo que a empresa terá resolvido o problema gerado pela pandemia. A Rede Expressos tem 390 viaturas a circular por dia e procura sempre ter uma frota abaixo dos 5 anos, o que significa que há um investimento sucessivo, há períodos em que há quase anualmente 50 viaturas a serem renovadas.

A expansão do mercado dos autocarros de longo curso é consequência de concorrência no mercado, nomeadamente da Flixbus?

Eu não colocaria a questão dessa forma, a Flix tem uma parte, digamos, dessa responsabilidade mas eu diria que não é a maior parte. O fluxo migratório que o país ainda continua a ter contribuiu muito para isso. Se os números são verdadeiros, que temos 1,6 milhões de imigrantes em Portugal, isso contribui muito para a maior mobilidade em Portugal. De 2019 para agora teremos subido o nosso mercado para aí uns 30%. Houve muitos fatores a contribuir para isso, mais oferta, mais serviços, os preços dinâmicos, passou a falar-se deste negócio… Havia pessoas que não sabiam que a Rede Expressos ou a Flix existiam. Depois há o aumento da população. E no turismo, as pessoas vindas da Europa utilizam muito os autocarros.

Tem havido também ganhos face aos comboios?

Sim, temos ganho com os problemas do serviço da CP, com as greves...

Os bilhetes para andar de autocarro são agora muito mais baratos. O aumento do volume está claramente a compensar a baixa de preços?

Em algumas linhas sim, noutras não. Nós funcionamos muito num conceito de rede, temos alguns horários dentro de algumas linhas que são deficitários porque têm que se fazer, o transporte de 10 ou 15 passageiros não é suficiente para pagar os custos. E temos um sistema informático cada vez mais poderoso que nos permite rapidamente vender com mais antecedência.

Quem é o vosso principal concorrente? É a FlixBus, a CP, o avião ou o transporte individual?

O avião não é certamente um concorrente, é ínfimo. É a CP, no Lisboa-Porto, mas a CP não sai dos carris, felizmente. Com a nossa política ‘porta-a-porta’, quem vai para a Sertã não vai de comboio, quem vai para Fátima não vai de comboio. A CP tem estas limitações, a que se junta um serviço menos regular, menos qualificado. Pese embora continue a fazer um esforço grande, nomeadamente do ponto de vista tarifário, nomeadamente com os passes que têm sido lançados.

O Passe Ferroviário Verde afetou-vos significativamente?

Não, notámos muito pouco impacto. A CP far-nos-á concorrência no Lisboa-Porto, no Lisboa-Évora, no Lisboa-Algarve. Certamente que com um passe mensal de €20 basta fazer duas viagens para estar pago, portanto é natural que haja gente que se mude para o comboio mas mudam e temos notícia de que voltam. Atualmente, nós apostamos muito na qualidade de serviço mas temos franjas da nossa procura que está a olhar para o telemóvel, ora para a Flix, ora para a Rede Expressos, a ver qual é que é o mais barato. Basta ir à Gare do Oriente e ver os miúdos a fazê-lo, porque alguns miúdos quer sejam mal servidos ou bem servidos, querem é os €4,99, nós tivemos casos quando começou a loucura dos preços baixos em que havia gente que ia daqui ao Porto passar a noite na discoteca e voltava no outro dia a seguir de manhã. Isto é incrível, mas é verdade. Porque é barato, €3 para cada lado. Nós já não temos preços, na generalidade, mais caros que a Flix, mas a Flix tem preços muito mais caros que os nossos. Porque nós não utilizamos preços especulativos. Nós temos uma tabela de preços máximos que, em circunstância alguma, ultrapassamos. No Lisboa-Porto são €20. Podemos ter os autocarros todos cheios e não passamos os €20. Não especulamos com os preços.

Acha que ainda existe em Portugal um certo preconceito das pessoas em usar os transportes públicos, porque supostamente só são para as pessoas com menos poder de compra ou que não conduzem?

Ainda há um preconceito que se tem vindo a esbater devido ao aumento da qualidade do serviço e ao aumento do custo do transporte individual, dos combustíveis e das portagens. Mas quando há redução nas portagens nós notamos logo uma diminuição de procura. É impressionante. O fim das portagens nas antigas SCUT [autoestradas sem custos para o utilizador] foi um erro grave para o país, incentivou claramente o transporte individual, não tenho dúvida nenhuma. As pessoas têm direito a andar de carro, é certo, mas têm de pagar portagens. É como o trânsito nas cidades, enquanto não houver claramente uma repressão à entrada dos carros ligeiros, nunca mais vamos conseguir resolver o problema dos transportes. Por exemplo, em Lisboa passámos de 200 e tal mil carros em Lisboa para 400 e tal mil. Isto tem que ter um limite. É concorrência desleal, é mau para o país, é mau para o ambiente e não sei se efetivamente beneficia tanto as economias locais quanto isso. Tenho muitas, muitas dúvidas. Há em algumas zonas uma questão de segurança, por exemplo, na Nacional 125, no Algarve, acredito que o facto de acabarem com as portagens possa diminuir a taxa de sinistralidade na 125, mas isso é uma questão de segurança pública.

Preocupa-vos, em termos de concorrência, os investimentos previstos para a ferrovia com a criação de linhas de alta velocidade?

Não, os segmentos de mercado são diferentes.

Mas a partir do momento em que se fizer Porto-Lisboa em 1h15, torna-se imbatível.

Sim, mas é preciso ver a que tarifa é que as viagens serão feitas…

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