Economia

Trabalhadores do 'Jornal de Notícias' e de 'O Jogo' pedem suspensão de contratos de trabalho

Trabalhadores do 'Jornal de Notícias' e de 'O Jogo' pedem suspensão de contratos de trabalho
TIAGO MIRANDA

Reunidos em plenário, os trabalhadores decidiram acionar mecanismo que lhes permite receber o subsídio de desemprego e deixar de trabalhar, perante a falta de pagamento dos seus salários e a decisão do fundo de investimento que controla o grupo de não fazer a transferência do dinheiro a que se tinha comprometido

Trabalhadores do 'Jornal de Notícias' e de 'O Jogo' pedem suspensão de contratos de trabalho

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

Os trabalhadores do ‘Jornal de Notícias’ (JN) e de ‘O Jogo’ decidiram esta quinta-feira em plenário ativar a suspensão dos contratos de trabalho por falta de pagamento dos salários. Tal significa que passarão a receber subsídio de desemprego e deixarão de trabalhar até que a situação esteja resolvida e os salários de dezembro sejam pagos. Esta sexta-feira, os trabalhadores do ‘Diário de Notícias’ também vão avaliar essa possibilidade, tal como farão na segunda-feira os do ‘Dinheiro Vivo’.

Estão em falta os salários de dezembro dos trabalhadores da área da imprensa do grupo - ‘Jornal de Notícias’, ‘Diário de Notícias’, ‘O Jogo’, ‘Dinheiro Vivo’, Global Imagens e serviços partilhados - além do trabalho suplementar e o subsídio de Natal. Na terça-feira da semana passada, o presidente executivo do grupo, José Paulo Fafe, dizia ter recebido a “promessa” do fundo de investimento que controla o grupo, o World Opportunity Fund, de que seria feita a transferência para pagar os salários na segunda ou terça-feira. Depois, na segunda-feira, fez saber que era seu “desejo” que o pagamento fosse feito no máximo até quarta ou quinta-feira. E agora, esta quinta-feira, enquanto os trabalhadores estavam reunidos para decidir o que fazer, informou que afinal só haverá pagamento quando for concluído o procedimento administrativo aberto pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) contra o fundo e após o empresário Marco Galinha retirar o procedimento cautelar de arresto que colocou a 4 de janeiro passado.

Chantagem e terrorismo

Em reação, os trabalhadores do JN disseram “repudiar mais um ato de terrorismo da comissão executiva”, feito “através de um comunicado enviado a órgãos de comunicação social antes de o fazer chegar aos trabalhadores”. Asseguraram também que vão “defender inequivocamente – e até às últimas consequências – o ‘Jornal de Notícias’ e os seus trabalhadores, tendo sempre em vista o superior interesse dos leitores, do jornalismo e da democracia”.

Rita Salcedas, delegada sindical do JN, disse ao Expresso que “o constante jogo do empurra para a frente e para os lados em relação ao pagamento dos salários deixa bem a descoberto o desrespeito que esta comissão executiva tem pelos trabalhadores”, adiantando que o comunicado de Fafe “na forma e no momento em que aconteceu, constitui uma chantagem inadmissível”.

Do lado de ‘O Jogo’, os trabalhadores referiram que o comunicado do presidente executivo “deixa clara uma ideia repulsiva: não pagam porque não querem”. “Os trabalhadores vivem uma situação limite e extremamente angustiante, com óbvias consequências para as respetivas famílias. Falta dinheiro para as mais básicas necessidades, mas os salários não são pagos por opção”, adiantam em comunicado. “Não cedemos a chantagens, pressões e táticas terroristas da comissão executiva ou de José Paulo Fafe, que fazem dos trabalhadores autênticos reféns e armas de arremesso”. E adiantam que por maioria, decidiram ativar também, tal como os colegas do ‘Jornal de Notícias’, a suspensão dos contratos de trabalho, por falta de pagamento de salários.

Frederico Bártolo, delegado sindical de ‘O Jogo’, disse ao Expresso estranhar que “mais uma vez, num momento de reunião de trabalhadores, como já tem sido hábito, haja uma comunicação de intimidação por parte de José Paulo Fafe. Lamentamos profundamente que haja esta tentativa de chantagem aos profissionais desta casa para se tentar salvaguardar de uma decisão que venha quer de uma providência cautelar quer da ERC”, diz.

O World Opportunity Fund (WOF) tornou-se o maior acionista da Global Media em setembro – controla 50,25% - e desde então a ERC dirigiu pedidos de informação para saber quem são os seus acionistas. Em face da ausência dessa informação decidiu dar 10 dias úteis ao fundo para que envie os dados solicitados, findos os quais avançará com a suspensão dos seus direitos patrimoniais e de voto na empresa. A decisão da ERC deverá ser conhecida na próxima semana.

Quanto ao procedimento cautelar de arresto, foi avançado por Marco Galinha, acionista com 17,59%, e aguarda uma decisão do juiz.

No comunicado que fez sair esta tarde, José Paulo Fafe aproveitou também para negar ter conhecimento de propostas de compra do grupo, apesar de na semana passada ter assumido conhecer a proposta apresentada por Marco Galinha. “É meu dever informar todos os trabalhadores da Global Media que a comissão executiva, ou eu próprio, enquanto representante do World Opportunity Fund, não tem qualquer conhecimento, a não ser através da comunicação social, de qualquer proposta de aquisição de ativos do grupo”.

“Se a comissão executiva não é capaz de solucionar os problemas, que assuma isso e aja em conformidade. Há propostas e vias de saída em cima da mesa para todos os títulos. A situação exige em toda a linha a abertura para uma negociação”, dizem, por seu lado, os trabalhadores de ‘O Jogo’.

Já esta manhã a comissão de trabalhadores da TSF tinha referido ser “incompreensível que, havendo interesse de vários empresários em ajudar a resolver a situação com promessas imediatas de investimento, a comissão executiva não mostre sinais de abertura e deixe os trabalhadores a agonizar na incerteza crescente sobre o futuro das suas vidas”.

A resolução do impasse deverá passar por uma negociação urgente entre os acionistas minoritários, com Marco Galinha à cabeça, e o World Opportunity Fund, resolvendo as divergências que os opõem. Um aumento de capital com entrada de novos investidores é a hipótese mais provável, sabe o Expresso, diluindo-se assim as participações quer dos minoritários quer do fundo, que se manteria como acionista.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: PLima@expresso.impresa.pt

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