Economia

Jornal de Notícias mantém greve para os dias 6 e 7 de dezembro

Jornal de Notícias mantém greve para os dias 6 e 7 de dezembro

Em face da “falta de resposta da administração”, os trabalhadores mantêm o protesto e decidiram amplificar os alertas sobre a situação do jornal. Administração da Global Media diz que só consegue pagar salários de novembro no início da próxima semana

Jornal de Notícias mantém greve para os dias 6 e 7 de dezembro

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

Os trabalhadores do Jornal de Notícias (JN) decidiram em plenário realizado esta quinta-feira manter o pré-aviso de greve para os dias 6 e 7 de dezembro. A paralisação será a resposta à reestruturação do grupo Global Media que está a ser preparada pela administração e que, segundo os trabalhadores, passará pelo despedimento de cerca de 150 pessoas, 40 das quais no JN.

“Reunida em plenário nesta quinta-feira, 30 de novembro de 2023, a redação do Jornal de Notícias decidiu manter o pré-aviso de greve para os dias 6 e 7 de dezembro de 2023, em face da falta de resposta da administração ao pedido de esclarecimento sobre a intenção de despedimento coletivo no GMG enviado no dia 24 de novembro, e aprovar medidas de amplificação da causa do JN junto da opinião pública”, segundo um comunicado das delegadas sindicais do jornal.

Em 2015, o JN parou por duas vezes. E em setembro foi a vez de a TSF, outro órgão de comunicação social do grupo, fazer greve.

A administração da Global Media, grupo que, além do JN e da TSF, detém jornais como o Diário de Notícias e O Jogo, não confirma a decisão de avançar com o despedimento coletivo que está na base da contestação dos trabalhadores. Em resposta a questões enviadas pelo Expresso, a comissão executiva da Global refere que “o Global Media Group já deixou bem claro que a situação do grupo, à semelhança do que ocorre em todo o sector, não é a melhor”. Por isso, adianta, a solução “terá de passar pela contenção de despesas, aumento de receitas e racionalização de meios e recursos, sendo que, para isso, existem várias alternativas, algumas delas complementares, e que estão a ser estudadas”.

Entretanto, o grupo voltou a atrasar-se no pagamento dos salários e, em comunicado enviado logo a seguir ao plenário dos trabalhadores, a comissão executiva disse que só tem condições para regularizar a situação no início da próxima semana.

Devido à gravíssima situação financeira com que se debate o Global Media Group, com a acumulação de elevados prejuízos e a existência de um total défice de tesouraria, o pagamento atempado dos salários no último ano só foi possível devido a transferências feitas pelo acionista Marco Galinha”, explica a comissão executiva em comunicado, acrescentando que “com a alteração recente na estrutura acionista, em grande parte motivada pelo facto de se tornar insustentável para o referido investidor continuar a suportar sozinho a manutenção do grupo, tais transferências passaram a ser suportadas pelo novo acionista, o World Opportunity Fund”.

Adiantando que tem cumprido o plano de regularização fiscal e o pagamento aos fornecedores, o grupo queixa-se da “adulteração de factos e criação de falsas narrativas, que, conjugada com os graves problemas financeiros que há muito vive este grupo, impossibilitou o acesso à banca nacional, obrigando assim ao recurso a transferências internacionais por parte do World Opportunity Fund, e que têm sido indispensáveis para garantir o pagamento dos salários”.

Assim, esclarece que “por atraso nos procedimentos administrativos e de ‘compliance’ referente à transferência feita pelo World Opportunity Fund, os salários do mês de novembro apenas serão processados no início da próxima semana, logo que as verbas transferidas do estrangeiro estejam acessíveis”.

Petição para defender o jornal

O plano de reestruturação do grupo deverá ser conhecido na próxima semana, mas para os trabalhadores os contactos recentes com a administração não deixaram dúvidas de que os despedimentos vão mesmo avançar. E por isso lançaram na quarta-feira uma petição em defesa do jornal em que se lê que o "Jornal de Notícias", um jornal de causas, com 135 anos de história de proximidade e de ligação às pessoas”, “uma história sobre e para o país, como tantas, mas contada a partir do Norte e do Porto, como mais nenhuma”, está “agora sob ameaça”.

A petição, que à hora de publicação deste texto reunia 3363 assinaturas, refere que “o "Jornal de Notícias", mesmo nestes conturbados tempos para a imprensa, apresenta anualmente resultados positivos, na ordem dos milhões de euros, e há muitos anos que se afirma nos lugares cimeiros do online”. E que “mesmo com este capital económico e patrimonial, as pessoas que o fazem e que o leem, o JN não é uma prioridade para a nova administração do Global Media Group”.

Os proponentes da petição adiantam no mesmo texto que “a administração comunicou, internamente e sem pedir reserva, a intenção de proceder ao despedimento de cerca de 150 pessoas, das quais 40 na redação do “Jornal de Notícias” - que entre a sede no Porto e a delegação de Lisboa tem cerca de 90 profissionais”. Como tal, “um corte desta dimensão será a morte do JN como o conhecemos e a destruição da ligação centenária às pessoas, às instituições e aos territórios. Se esta impensável decisão avançar, o título até pode sobreviver mais um ano ou outro, mas nunca será capaz de continuar a fazer a diferença”.

Apelando ao apoio dos leitores e de “todos os que prezam a liberdade de imprensa e de expressão, bem como a todas as personalidades e instituições do país”, referem que “a machadada que parece estar a caminho do JN poderá ter também consequências numa região, num país e nos milhares de pessoas que diariamente confiam em nós para estar informados e para se fazerem ouvir”.

Fafe ataca Marcelo

A reestruturação do grupo não é o único tema em aberto na Global Media, já que a tomada de controlo do grupo pelo fundo World Opportunity Fund continua a dar que falar. Esta quinta-feira coube a José Paulo Fafe, que a meio de novembro assumiu a presidência executiva do grupo, trazer o tema para cima da mesa, ao acusar o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, de se imiscuir nas mudanças acionistas da Global Media.

Numa declaração feita a título pessoal, e por escrito, José Paulo Fafe afirmou em declarações ao jornal Eco: “um dia havemos todos de perceber qual a razão que levou o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa a imiscuir-se, da forma insólita como o fez, em todo o processo em redor da entrada do fundo no capital do Global Media”.

O gestor, que esteve ligado ao Tal & Qual como acionista e administrador da empresa Parem as Máquinas, detentora do jornal, adiantou que “haveremos de perceber o que, de facto, o terá levado a ser uma das principais pessoas que, nos últimos meses, mais contribuiu para fomentar a intriga em redor do negócio, criando e veiculando boatos sobre o fundo, exercendo pressões, e tentando condicionar até algumas mudanças a nível editorial, alinhando numa campanha inqualificável contra um investidor que, ao invés do que ocorre no setor, se dispôs a investir fortemente nos media portugueses”.

Fafe disse ainda que “o interesse excessivo do Presidente da República em todo este processo é, no mínimo, estranho”.

A entrada do fundo, sedeado nas Bahamas e controlado pela sociedade gestora de ativos Union Capital Group, de capitais norte-americanos e com sede na Suíça, está sob análise da Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERC) mas os responsáveis da Global Media rejeitam quaisquer dúvidas em torno desta tomada de posição. Em outubro já o PS tinha pedido à ERC para indicar quais são os meios de financiamento e o capital social da nova estrutura acionista da Global Media, adiantando que “pouco ou nada se conhece” do fundo.

Marco Galinha, que vendeu parte da sua participação ao fundo, cedendo a maioria do capital, disse esta semana à Lusa que o fundo tem 100 mil subscritores e que “andar a pedir um beneficiário efetivo de um fundo com 100 mil subscritores é uma coisa do outro planeta, só revela que há qualquer coisa que não bate certo”. O empresário, proprietário do grupo BEL, adiantou que “este fundo acreditou no projeto de língua portuguesa”, “um projeto para dignificar a língua portuguesa e para Portugal estar na liderança da língua portuguesa, dos media do futuro”.

Galinha passou a acionista minoritário da Global Media, mas mantém-se como administrador da Páginas Civilizadas, empresa que tem 50,25% da Global Media e da qual o World Opportunity Fund tem 51%. E passou a deter 100% das revistas Evasões e Volta ao Mundo, anteriormente detidas pela Global Media. Contactados pelo Expresso, a Global e o grupo BEL não fizeram comentários sobre esta mudança de propriedade.

Na entrevista à Lusa, o empresário disse que investiu “além das possibilidades na salvação” da Global Media.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: PLima@expresso.impresa.pt

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