Economia

Produção nacional de trigo abasteceu apenas 6,3% do consumo interno em 2021

Produção nacional de trigo abasteceu apenas 6,3% do consumo interno em 2021

Portugal é muito dependente do abastecimento estrangeiro de trigo. Porém, é reduzido o peso da Rússia e Ucrânia, que estão entre os maiores produtores de cereais do mundo

No que diz respeito ao trigo, Portugal tem uma forte dependência externa. Segundo os dados divulgados esta quinta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, há mais de dez anos que "o grau de autoaprovisionamento é inferior a 10%", sendo que em 2021 "apenas 6,3% da utilização interna de trigo (consumo humano, alimentação animal, utilização industrial, entre outros) era satisfeita pela produção nacional".

Se andarmos cerca de 30 anos para trás, para 1990, 59,9% da utilização interna de trigo era satisfeita pela produção nacional.

Assim, a balança comercial de trigo em Portugal é deficitária. "Em 1988 (o primeiro ano da série disponível de informação homogénea), o défice foi cerca de 48 milhões de euros, o valor mais baixo do período, tendo atingido 286 milhões de euros em 2021", nota o gabinete estatístico.

Estamos dependentes da Rússia ou da Ucrânia?

A Rússia e Ucrânia são dos maiores produtores de cereais em todo o mundo, tendo um grande impacto no abastecimento europeu. Aliás, se os preços dos cereais já vinham a crescer desde o ano anterior, desde que a guerra começou, em fevereiro, com a invasão russa da Ucrânia, que os preços dispararam.

No entanto, Portugal não está assim tão dependente destes países.

No final dos anos 80 os Estados Unidos eram o principal fornecedor de trigo, mas na década de 90 os países da União Europeia (UE) ganharam destaque, particularmente a França.

O INE faz uma média entre 2012 e 2021 e a Ucrânia e a Rússia têm pesos bastante residuais nas nossas importações de trigo, ambas abaixo de 1% (0,5% da Ucrânia e 0,3% da Rússia).

"A suspensão das importações deste cereal com origem nestes países dificilmente poderá afetar o abastecimento interno deste cereal. No entanto, a instabilidade resultante da intervenção militar da Rússia na Ucrânia refletiu-se na cotação internacional do trigo o que, face à dependência externa de Portugal desta commodity, irá muito provavelmente aumentar o desequilíbrio da balança comercial", explica o gabinete estatístico.

Se já somos bastante dependentes de fora, 2022 parece estar com problemas ainda maiores pois "as previsões agrícolas apontam para uma diminuição da produtividade de 10%, face a 2021, numa campanha igualmente marcada pelo aumento significativo do preço dos meios de produção que, em conjunto com as condições meteorológicas adversas, contribuíram para a diminuição da área instalada (-8%)".

Assim, caso o consumo interno se mantenha ao mesmo nível do ano passado e admitindo que o preço não sofre mais alterações até ao fim do ano, "o impacto na balança comercial portuguesa de trigo em 2022 já seria de um agravamento do défice próximo de 60% face a 2021, correspondente a cerca de 165 milhões de euros", o que representaria perto de 1% de agravamento do défice global, nota, por fim, o INE.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: rrrosa@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate