Economia

Auditoria à gestão da CGD. Sete empréstimos geram perdas de 580 milhões

Auditoria à gestão da CGD. Sete empréstimos geram perdas de 580 milhões
© Jose Manuel Ribeiro / Reuters

Sete operações receberam 1092 milhões de euros e deixaram um rasto de destruição no capital da Caixa Geral de Depósitos. La Seda, Vale do Lobo, Berardo, Manuel Fino e Finpro são os casos mais lesivos

A Caixa Geral de Depósitos (CGD) já reconheceu perdas de 580 milhões de euros por conta de sete financiamentos imprudentes, em que não adotou as boas práticas na concessão de crédito.

A conclusão consta do relatório da EY após a auditoria realizado a pedido do Ministério das Finanças, revelada por Joana Amaral Dias na CMTV a que o Expresso teve acesso e que confirmou tratar-se de uma versão preliminar. No total, as sete operações beneficiaram de 1092 milhões de créditos da CGD. O documento refere-se ao período entre 2000 e 2015.

A lista das sete operações não é surpreendente. É liderada pela Artlant (fábrica da ex-la Seda em Sines), entretanto vendida e que recebeu 350,8 milhões de euros. Segundo o relatório da EY, a CGD reconhecera 60% deste valor como perdido, no execício de 2015.

Joe Berardo é o segundo maior devedor, surgindo na lista através de operações da Fundação Berardo (267,6 milhões) e da sua holding Metalgest (52,5 milhões). No caso do empréstimo à Fundação, a CGD reconhecera perdas de 46,5%, por conta de financiamento destinado à aquisição de ações do BCP. Na Metalgest, o grau de incumprimento é menor; 53% do empréstimo.

O desastre Vale do Lobo

O empreendimento de Vale de Lobo, no Algarve, é outro dos sorvedouros de dinheiro da CGD. A lista da EY regista dois devedores (Birchview e QDL) que à primeira vista só serão reconhecidos por especialistas.

Mas, a imobiliária Birchview pertence ao grupo QDL e são protagonistas do projeto de Vale de Lobo - as duas sociedades já declararam falência. Segundo a auditoria da E&Y, as duas repartiram 170 milhões. No fim de 2015, a CGD registara um imparidade de 30% do valor que concedera ás duas empresas. O banco público representa 93% dos créditos concedidos à promotora de Vale do Lobo.

A CGD é de longe o maior perdedor neste negócio onde meteu dinheiro na dupla qualidade de acionista e financiador. Vale do Lobo é dos projetos da CGD mais polémicos combinando luxo (um resort em Vilamoura), política (Armando Vara terá sido o decisor) e justiça (é um dos inquéritos da operação Marquês).

Tudo perdido com Manuel Fino

Investifino e Finpro completam a lista das sete "magníficas" operações da CGD. No caso de Manuel Fino, a CGD entrou com 138,3 milhões para o empresário reforçar no BCP e comprar e expandir a Soares da Costa, uma construtora que já não tem atividade em Portugal. Em 2015, a CGD reconheceu a totalidade do empréstimo como perdido. Dos sete, é o único em que tal acontece.

A Finpro, uma sociedade de investimentos para infraestruturas que resultara de uma parceria entre o grupo Amorim e o Banif, contou com um financiamento de 114,1 milhões. Em 2015, a CGD reconhecera 35% como perdido. O fundo fez várias aquisições internacionais na área das infraestruturas e utilities, mas seguiria depois para liquidação.

De acordo com a análise da EY, as operações da Artlant, Birchview e QDL (Vale o Lobo) foram as mais graves do ponto de vista da concessão inicial do crédito e da avaliação do risco.

As restantes são consideradas de "risco elevado". A CGD falhou ainda "na monitorização subsequente" de todas as sete operações identificando a EY comportamentos inadequados e de risco.

A auditoria também revela que o banco concedia crédito sem olhar para os riscos das empresas e que concedia prémios aos seus gestores de forma avulsa, mesmo em períodos em que tinha prejuízos.

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