“Fado Breve” tem um apontamento de rap. É um fado com rap ou fado “rapado”?
Não sei enquadrar. Foi escrito para fazer um dueto com o charmoso.
Chamava-lhe sempre charmoso?
Sim, muitas vezes; e, sempre que me queria meter com ele dizia: “Como é, charmoso?” Era uma brincadeira carinhosa. Quem lhe pôs esta alcunha foi o Ary dos Santos e o Paulo de Carvalho. No núcleo duro dos amigos dele, sempre lhe chamaram charmoso. Portanto, o nome foi ficando. Claro que continuei sempre a chamar-lhe pai.
Voltando à história do “Fado Breve”...
Eu faço este fado em 2018, quando o meu pai diz que se vai retirar, para entrar no último disco. Mas a saúde trai-o, e sendo ele o guerreiro que é, já não o consegue fazer. Na altura, deixo aquela parte do “rap” em branco, com o intuito de eu fazer uma graça, mas a gravação do último disco torna-se muito difícil. Ou seja, este “Fado Breve”, não seria, teoricamente, para entrar no meu disco, mas no disco dele, e a letra que escrevi pretendia corresponder à forma como o charmoso encarava a vida. Era uma despedida, não sendo uma despedida. Situava-se entre o destino e a brevidade da vida, fazendo essa graça, até por ele ter, literalmente, vivido tanto tempo no limiar da sobrevivência. Essa parte ‘rapada’ foi escrita para homenageá-lo. Como ele não chegou a gravá-lo, achei que seria uma forma de celebrar a vida e o canto dele.
Chegou a ter uma reação do seu pai?
Na altura, disse-me: “Olha filho, para já, a primeira malha para a guitarra portuguesa é original. Dá-me a sensação que é inovadora e é orelhuda.”
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